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O amor que ama


 
Eu cansei de me comover com as injustiças sociais e depois de um tempo ser injusta com alguém. Cansei de chorar com depoimentos de gente sofrida, mas depois passar por uma delas e nem lhe oferecer um sorriso. Cansei de dizer que quero mudar o mundo, mas como, se nem minha mente se renova?

Acredito e admito que sou inconstante, que sou impulsiva, que digo que vou fazer, digo que vou ajudar, mas termino focando em outras coisas. Já criei muitos textos ativistas, acho que posso denominá-los assim, já disse da importância de se ajudar os outros, de se ter amor para com as pessoas, mas será que realmente tenho vivido isso?

Essa semana eu assisti um documentário sobre a vida de cinco mulheres catadoras de lixo na Grande Recife, uma realidade tão próxima, tão... Nossa e nem mesmo assim enxergamos, digo enxergar de verdade, não olhar de soslaio.

Nesses últimos tempos eu tenho enfrentado algumas crises de relacionamentos interpessoais, de confiança nas pessoas, e acreditem... Estava dando muito valor a isso. Acho que eu foquei em mim, e me esqueci da pequenez do problema. Sim, “pequenez”. Diante de tantas realidades sofridas, o que são meus problemas? (se é que são problemas.)  

Lembro que uma delas disse que encontrava restos de comida no lixão, aproveitava da melhor forma e dava de comer para os filhos. Outra declarou que apesar daquela vida, levantava as mãos e agradecia a Deus pelo pouco. Uma nem esperança possuía, de tanto sofrimento.

Me comovi, é verdade. Comecei a perceber que a vida é bem mais que meus dileminhas adolescentes, que o mundo é injusto. Comecei a entender quão pequenas e vazias são as pessoas que resumem tudo a “tem dinheiro – presta, não tem dinheiro – não presta”.

O olhar que tenho da vida a partir desse e de muitas outras realidades vistas, foi o de desprezo por esse sistema frio. Desprezo e nojo.

Há pessoas que cospem no chão quando veem um gari varrendo a rua, uma prostituta no sinal, um mendigo, uma criança suja e desnuda... Que mundo é esse? Que mundo é esse tão nauseante, hipócrita e fútil, de pessoas cheias de ideologias políticas e sem a simplicidade de amar o outro?

Falta-nos amor, falta-nos coragem!

Chega de criar teses sobre injustiças sociais dentro de sua confortável escrivaninha com ar-condicionado e biscoitos de leite. Chega de dar trinta centavos a cada moleque de semáforo para aliviar a consciência e seguir no seu carro conversível do ano. Chega de escutar, ler, escrever canções, textos que falem da tirania, sem de fato entender, sem de fato mudar. Chega!

Já é tempo de pararmos com toda essa hipocrisia, de apenas se ter um olhar humano... De apenas sermos humanos.

E para isso não precisamos de Marx, Lênin¸ Cazuza ou Platão... Para isso só precisamos do amor de Deus que é perfeito, que não decepciona, que não é egoísta... O amor que ama.

 

Observações:

Remorso ou arrependimento?

Remorso: Sentimento de culpa; culpa impulsiva e passageira.

Arrependimento: Tristeza pelo que já fez; tristeza que provoca MUDANÇA.

“A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva a salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte.”

II Coríntios 7:10