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Tão iguais....


Prédios, céu
Barracos, mansões,
Lama e ostentação.

Contrastes vistos,
nos rostos pintados
de lágrimas ou pó de arroz.

Diferentes, mas com os mesmos sinais vitais,
de quem sangra, vive, chora e morre.

Pois são
Criaturas do mesmo Deus,
são sedentos da mesma água.
Somos tão iguais...
Tão iguais.

O amor que ama


 
Eu cansei de me comover com as injustiças sociais e depois de um tempo ser injusta com alguém. Cansei de chorar com depoimentos de gente sofrida, mas depois passar por uma delas e nem lhe oferecer um sorriso. Cansei de dizer que quero mudar o mundo, mas como, se nem minha mente se renova?

Acredito e admito que sou inconstante, que sou impulsiva, que digo que vou fazer, digo que vou ajudar, mas termino focando em outras coisas. Já criei muitos textos ativistas, acho que posso denominá-los assim, já disse da importância de se ajudar os outros, de se ter amor para com as pessoas, mas será que realmente tenho vivido isso?

Essa semana eu assisti um documentário sobre a vida de cinco mulheres catadoras de lixo na Grande Recife, uma realidade tão próxima, tão... Nossa e nem mesmo assim enxergamos, digo enxergar de verdade, não olhar de soslaio.

Nesses últimos tempos eu tenho enfrentado algumas crises de relacionamentos interpessoais, de confiança nas pessoas, e acreditem... Estava dando muito valor a isso. Acho que eu foquei em mim, e me esqueci da pequenez do problema. Sim, “pequenez”. Diante de tantas realidades sofridas, o que são meus problemas? (se é que são problemas.)  

Lembro que uma delas disse que encontrava restos de comida no lixão, aproveitava da melhor forma e dava de comer para os filhos. Outra declarou que apesar daquela vida, levantava as mãos e agradecia a Deus pelo pouco. Uma nem esperança possuía, de tanto sofrimento.

Me comovi, é verdade. Comecei a perceber que a vida é bem mais que meus dileminhas adolescentes, que o mundo é injusto. Comecei a entender quão pequenas e vazias são as pessoas que resumem tudo a “tem dinheiro – presta, não tem dinheiro – não presta”.

O olhar que tenho da vida a partir desse e de muitas outras realidades vistas, foi o de desprezo por esse sistema frio. Desprezo e nojo.

Há pessoas que cospem no chão quando veem um gari varrendo a rua, uma prostituta no sinal, um mendigo, uma criança suja e desnuda... Que mundo é esse? Que mundo é esse tão nauseante, hipócrita e fútil, de pessoas cheias de ideologias políticas e sem a simplicidade de amar o outro?

Falta-nos amor, falta-nos coragem!

Chega de criar teses sobre injustiças sociais dentro de sua confortável escrivaninha com ar-condicionado e biscoitos de leite. Chega de dar trinta centavos a cada moleque de semáforo para aliviar a consciência e seguir no seu carro conversível do ano. Chega de escutar, ler, escrever canções, textos que falem da tirania, sem de fato entender, sem de fato mudar. Chega!

Já é tempo de pararmos com toda essa hipocrisia, de apenas se ter um olhar humano... De apenas sermos humanos.

E para isso não precisamos de Marx, Lênin¸ Cazuza ou Platão... Para isso só precisamos do amor de Deus que é perfeito, que não decepciona, que não é egoísta... O amor que ama.

 

Observações:

Remorso ou arrependimento?

Remorso: Sentimento de culpa; culpa impulsiva e passageira.

Arrependimento: Tristeza pelo que já fez; tristeza que provoca MUDANÇA.

“A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva a salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte.”

II Coríntios 7:10

Por trás dos Holofotes


Quando se está nervoso você é aconselhado a respirar fundo, contar até dez ou até imaginar carneirinhos pulando a cerca para cansar sua mente, fazer seus olhos ficarem sonolentos e a calma consequentemente aparecer.
Mas tem horas que só é você e você. O tempo passa e aquele momento crucial de alguma forma também passará, mas é só você e você... E se existe medo, esse medo consiste em se deparar com sua estrutura fraca, com seus joelhos trêmulos e voz tímida.
Ninguém lhe percebe na maioria das vezes, e isso é uma vitória pra você, mas quando todos lhe vêem, quando você se torna o foco... Simplesmente as coisas tomam outro rumo.
Há pessoas totalmente contrárias; ADORAM aparecer e ser o centro das atenções. Mas pra você, apenas basta um lugarzinho sossegado no mundo, com bons amigos, boas conversas... Sem muita pompa, sem holofotes, apenas uma boa piada, uma brisa suave e um violão acompanhando, porque não se pode faltar música!
Você só precisa de amor, de amigos, de vida... Não precisa de luzes, de aplausos, de platéia...
Mas o mundo é mau, a concorrência é grande, as pessoas querem ficar inchadas, sabe?
Tem gente que pisa pra subir na vida, tem gente que ri quando o outro cai...
É Nando Reis, o mundo não é tão "Bão" como você disse pra Sebastião em sua música.

Codinome Solidão


Carol é conhecida por ter o mais belo sorriso, mas nem sempre sorri de verdade.
Carol sente medo do escuro. Ninguém sabe.
Carol gosta de café amargo e chocolates brancos. Nas horas vagas acompanha séries de adolescentes e tem vontade de gritar com aparições de atores bonitos na tela do cinema.
Carol aprecia a sensação dos seus pés na areia, chora com comédias românticas, chupa os dedos depois de comer um bolo quente e ainda arrisca dançar na chuva em tempos onde sua rua está vazia.
Ninguém imagina, mas ela ainda grita por sua mãe quando tem um pesadelo, e tem vezes que até tem medo de dormir novamente para não se ter continuações. Ninguém percebe, mas Carol é apenas uma menina meiga de 38 anos, casada e com obrigações convencionais. Ultimamente vive com os olhos molhados e os ombros cansados de tanto carregar o seu mundo e o dos outros.
Carol existe, de fato...
Existe, mas não vive, e o pior:
ninguém nota.

LER AO SOM DE: NÃO QUERO MAIS ACORDAR ASSIM - FRUTO SAGRADO

Dias Confusos... Dias Estranhos...

As vezes não existem motivos específicos.
Simplesmente não estamos bem, não acordamos bem.
É aquela estranha sensação de tédio, angústia e saudade, saudade não sei de quem.
E é nesses momentos, estranhos momentos em que todas as coisas coinscidem a dar errado.
Você põe o pé na rua e começa a chover, a programação da TV torna-se chata, os seus amigos nem se interessam em enviar, ao menos um SMS de "bom dia"...
E nesses dias você tende a irritar-se facilmente com coisas minúsculas, como se fosse um desabafo inapropriado.
Nesses dias as pessoas não entendem você, e nem ao menos você se entende.
É uma exatidão de si mesmo que nos transcorre, uma exatidão confusa... Sem explicações você tem certeza de quem é, e essa certeza quase que absoluta amedronta e machuca.
Ou, há casos, de uma total incerteza das coisas; você não sabe o que sente, mas sente algo, você não sabe quem é, mas tem certeza de que aquela dúvida faz parte de sua essência.
Dias confusos... Tédio?
Dias estranhos... Estado de espírito?
E é exatamente nesses momentos de aparente crise existencial que precisamos de colo, de carinho, de atenção...
Você se acostuma tanto a ser a torre forte dos outros, a perguntar se eles estão bem, a dar conselhos, a abraçar forte enquanto choram... Que as pessoas também se acostumam a ter essa imagem sua e a inconscientemente te machucarem com a ausência, com a indiferença... Então você se sente traído e abandonado.
Muitas vezes você só precisa de um abraço.
Um abraço apenas, um "Você está bem?", uma piada sem graça para rir por misericórdia...
Muitas vezes você só precisa deixar de precisar sempre de si mesmo pra enfrentar suas guerras.
Muitas vezes você só precisa do outro.

Palavras Vazias


Todos falam sobre injustiça e desigualdade. Todos falam sobre a importância do amor ao próximo, sobre o respeito, a sensibilidade... Mas e quando todas essas palavras tornam-se apenas "palavras"?
Palavras vazias.
Vazias de sentido, de significado, e mais que isso: palavras vazias de sentimento.
E quando passar por um mendigo na rua e esbarrar em uma criança drogada torna-se comum e até mesmo banal?
Estamos na era mais egoísta de todos os tempos. A era onde textos como esses são quantitativos, mas atitudes são raras. Era onde o "Eu me amo" vale mais do que o "amai ao próximo como a ti mesmo".
Era onde luxuosas igrejas, com carros importados no estacionamento e assentos confortáveis têm dentre suas preocupações as inaugurações de novos templos, ao invés de estruturação de vidas.

Hoje presenciei uma das cenas mais tristes da minha vida. Enquanto passava por um lugar frequentado por todos os tipos de pessoas, tanto ricos quanto pobres, avistei alguns mendigos. Cheguei, conversei e por fim dei a eles o que eu tinha de mais precioso: Jesus (além de poucas moedas que guardei para determinado fim).
O que mais me encantou naquela pequena conversa não foram os vários pedidos de agradecimento pela oferta dada, nem o jeito tímido dos pobres se ajeitarem para nos receber... O que me encantou foram os olhos de uma deles. Os olhos dessa senhora ao perceber que nós estávamos nos importando com aquela situação caótica brilharam e ficaram úmidos, ela nos deu um sorriso sem dentes cheio de gratidão, como se aquilo fosse raro!
Ao me afastar deles, como por uma fração de segundos, os tais começaram a brigar por aquele dinheiro, demonstrando a miséria em que viviam. Pareciam animais lutando pelo último alimento e assim revelavam o instinto primitivo humano em um triste palco mórbido da vida.

Saímos de lá com o coração apertado, avistando em contraste todas as belezas daquela grande cidade, com seus grandes carros, pessoas importantes e igrejas luxuosas. Culpei tudo e todos por aquele momento infeliz que presenciei. Culpei o governo, o capitalismo, e enfim concluí com um: "A vida é cruel."

No fim, só descobri que estamos muito longe do ideal perfeito da palavra "Amor", sabendo assim que Deus é amor e que no fim de tudo, nós, não sabemos de fato amar.

LER AO SOM DE: NÃO EXISTE AMOR EM SP - CRIOLO

Metades Ambulantes


Em meio a tantas declarações apaixonadas e frustradas nas redes sociais, de posts em blogs, de filmes água-com-açúcar do gênero comédia romântica completamente previsíveis... Estou aqui para falar nesse assunto tão bombardeado e por vezes chato: amor.

Na verdade minto, não irei falar sobre o que de fato seria o amor, até por que essa palavra é abrangente demais para as minhas poucas linhas de raciocínio, o que irei argumentar é sobre as pessoas, a eterna mania de se auto-comiserarem.
É aquilo de nunca conseguir se amar, sempre amar o outro de forma desequilibradamente altruísta, inferiorizando-se, depositando suas esperanças e muitas vezes toda a sua felicidade num modelo completamente humano e falho.
E as frustrações que vêm, apenas são a realidade se mostrando como sempre foi. Quando se descobre que aquela pessoa não é perfeita, que os seus defeitos são tantos quanto suas qualidades e que pior ainda: quando descobrimos que não existe reciprocidade.
Você o ama, mas ele não te ama tanto assim... Então você sofre, chora, se desespera e começa a postar frases da Clarice Lispector e tantas outras poetisas feministas no seu perfil do Facebook. Você jura que nunca mais irá se apaixonar e começa a se odiar terrivelmente por ser tão idiota, mas de repente conhece outro e... Pimba! Lá vem o viciante encantamento que quando não dá certo mata.

 Andam como se vivessem a procura de suas "caras-metade" fazendo com que suas existências resumam-se em serem metades ambulantes, carentes de uma felicidade muitas vezes idealizada e não real.

Idealizada e não real.





LER AO SOM DE: POR ENQUANTO - CÁSSIA ELLER



Destino Errante

Já virou jargão frases que falem sobre escolhas. Teorias que comprovem que palavras e escolhas são irremediáveis, e de fato cansei de muitas delas.
As pessoas estão sempre "retwittando" as coisas, repetindo essas frases, essas teorias, mas no fundo praticam as mesmas falhas, escolhem os mesmos caminhos errados.
Digo isso por mim mesma. Somos acostumados a errar, e é tendência humana seguir o caminho mais perigoso... Talvez pela atração do novo, do proibido.
Erramos, quebramos a cara, nos ferimos profundamente e quando nos demos conta que fizemos a pior escolha, choramos e nos arrependemos. Mas depois de um tempo como numa amnésia repentina... Nossos pés quase inevitalvelmente seguem pelo mesmo destino errante.

A Relatividade do Acreditar ou não Acreditar


Sou uma pessoa muito crédula e acredito que já falei isso por aqui, mas nesses dias comecei a pensar nas pessoas que simplesmente não acreditam em nada.
Infelizes? Racionais? De alguma forma felizes? Realistas? São perguntas que rondaram a minha cabeça em um desses instantes de reflexão.
Não acreditar no amor, não acreditar na vida, não acreditar na morte, não acreditar em Deus, não acreditar nas pessoas... Enfim! É muito vasto este campo de incredulidade.

Mas fiquei pensando: O que de fato faz um incrédulo... Ser incrédulo?
A resposta veio quase de imediato.
A incredulidade é uma das reações mais comuns para os que sofrem na vida. E como, acredito que todos sofrem... No fundo todos nós não acreditamos em algo.
Por outro lado, não existe um ser TODO incrédulo, já que em alguma coisa possivelmente acreditamos.
Um exemplo digno desse post é o dinheiro. O dinheiro em cédula,  nada mais é do que papel. Simples papel ilustrado em que depositamos todas as nossas expectativas profissionais, familiares e até emocionais.
Sim! O mundo é movido por esse papel. As pessoas fazem guerra por esse papel, as pessoas controem castelos com esse papel... As pessoas dividem classes por esse papel, há pessoas que morrem com a ausência desse papel.
Não seria isso fé? Acreditar no que de fato não se tem valor? Não seria isso credulidade... E digo ainda mais; credulidade ingênua?
O fato é: Ninguém é completamente algo, todos somos metades... Sempre metades, até no quesito simples de acreditar ou não em alguma coisa neste mundo.

Amor & Blues

Enquanto ouvia Muddy Waters no seu cadillac azul de cor desbotada, Marcos sonhava ainda estar nos anos 60. O blues, o cigarro que fumava, o cadillac azul, os cabelos tingidos de preto... Exatamente todo esse retrato definia sua prisão ao passado, seu amor ao que já fora.
E realmente, foram tempos bons que vivera. Principalmente lembrava-se de um episódio em especial.
Eram meados de 66, Marcos tinha seus dezenove anos, cabeludo, usava uma jaqueta de couro preta, uns óculos escuros redondos (imitava o John Lennon).
Andava pela vizinhança com o carro do seu pai... Um Cadillac Fleetwood 1954, olhando-se a cada minuto pelo retrovisor, ansioso para ver a garota que amava.
Rita o esperava na porta da escola, fofocava com as as amigas o quanto Marcos era bonito, o quanto o carro dele era bonito...
Rita era linda, uma perfeitinha garota paulista dos cabelos de laquê, o estereótipo americano do que chamam ser "sonho de consumo".
Rita amava o jeito rebelde de Marcos, os cabelos rebeldes de Marcos... E eram assim que estavam os próprios cabelos quando finalmente chegara na porta da escola; rebeldes, voando ao vento.
Estava ao som de Hoochie Coochie Man do Muddy Waters, e tinha um ar autêntico de garanhão. As garotas que estavam com Rita ficaram suspirando por aquele alter ego do Elvis Presley enquanto a dona do coração aventureiro do rapaz entrava no carro.
Foram-se com a liberdade travestida de vento sobre os cabelos de laquê... O Brasil estava em guerra, dominado pela ditadura, não se tinha voz naqueles dias... Mas Marcos protestava assim como tantos jovens estudantes naquela época, sendo apenas... Jovem!
Marcos protestava beijando sua Rita no meio da rua, Marcos protestava chamando nomes feios com os militares que passavam por ele... Fora preso algumas vezes, exibia as marcas de algumas torturas como troféus para os amigos sedentos por um país livre.
O país estava numa guerra fria e violenta, mas naquele dia semanal nada mais importava... Marcos era livre, livre para amar Rita, e para ele só isso bastava.
Foram-se pelas ruas sangrentas de um país aprisionado.
E agora quase cinquenta anos depois, Marcos relutava por viver aqueles tempos de rebeldia. Seus cabelos não eram como antes, tinha engordado, casara-se com Rita, sua velha que hoje detesta laquê... Mas ainda ouvia blues, ainda teimava em ser jovem lutando contra seus muitos cabelos brancos de sessenta e cinco anos.
Os tempos haviam mudado e o país era de fato livre...
Só Marcos que ainda estava preso. Não preso ás forças militares, nem torturado por generais de grande ordem.
Aquela "liberdade" contida que ele tinha nos censurados tempos de 60 o aprisionava em tempos livres... Mas não exatamente tempos de paz.


LER TEXTO AO SOM DE: COMO OS NOSSOS PAIS - ELLIS REGINA

Repetições como essas...

Um dia comum, em uma semana comum, uma pessoa comum acorda.
Acorda e faz as suas tarefas diárias, sorri para o cônjuge, beija os filhos, sai em caminhada para o trabalho.
Vê gente, tropeça em mendigos, se interessa pela roupa da vitrine, pensa na dívida que tem que pagar, chega no trabalho.
No trabalho sorri, meio que forçadamente para os colegas, organiza sua pauta do dia... É meio difícil ser jornalista num campo tão corrompido.
Se olha no espelho, percebe que está meio velha, aspecto de cansada, com bolsas nos olhos... Nem parece aquela menina que todos diziam ser linda em tempos de dezessete anos, quando era considerada musa dos poetas marginais da escola, os ladrões de frases de efeito.
Se penteia um pouco pra fugir daquela aparência e percebe que o seu chef está chegando.
O expediente termina, volta para casa e não se sabe o por que, mas novamente tropeça no mesmo mendigo; "Será que ele não sai do caminho?".
Apaixona-se por outro look na vitrine, mas logo lembra-se que não tem dinheiro o suficiente já que se tem que cobrir o cheque daquele dia...
Ah!
E o tempo rouba-lhe a vida, e a rotina escraviza-a com suas garras travestidas de conforto (ou desconforto)...
E sem perceber a vida da pobre jornalista vai fazendo contornos de uma vida sem sentido, sem sabor... Onde tudo resume-se em repetições como essas.




LER AO SOM DE: NOSTALGIA - THIAGO GRULHA

O Poder Que Temos

Em nossas mãos está o poder da morte e da vida.
Não é nenhuma arrogância minha dizer isso, mas isso não passa de uma verdade. Você pode até se perguntar: "Eu? Matar alguém? Mas sou tão inofensivo!" ou "Eu? Dar vida a alguém? Mas sou tão insignificante"... Mas é aí que se está a beleza desse cosmo. A dualidade que nisso existe. O bem, o mal, os soberbos e os extremamente humildes.
Você não mata alguém apenas com um revólver, uma faca ou qualquer outro objeto cortante... Essa é apenas a morte física, a dor física.
Existe uma morte que pode ser considerada uma das piores, esta é a morte por palavras, por ações ou simplesmente por falta de qualquer uma dessas.
Essa é aquela morte que nos corroe por dentro, que nos sangra pouco a pouco e gradativamente nos tira o ar. É aquela em que a pessoa nos diz algo que fere profundamente e que demora anos para cicatrizar, é aquela em que a frieza do olhar congela, é aquela em que a ausência de um abraço destrói.

Temos o poder de matar todos os dias as pessoas, e essa morte é a que mais acontece.

Por outro lado podemos dar vida todos os dias.
Podemos salvar vidas de um dia triste com apenas um sorriso, gerar alegria com um abraço... Podemos dar vida quando somos sinceros, quando nos importamos de verdade, quando não nos ausentamos, quando não somos frios...
Podemos salvar vidas quando simplesmente somos educados em um cordial cumprimento como: "Tudo bem?"...
Enfim, temos esse poder em mãos, temos essa arma poderosa e na maioria das vezes nem nos damos conta disso e por vezes nessa estrada da vida acumulamos cadáveres atrás de nós.

Vai Ficar Tudo Bem

Querida,
Parece que hoje foi ruim pra você.
Não finja,
Ás vezes desabafar
É melhor do que se esconder.

A vida ás vezes é tão complicada
Eu sei, mas um dia
Tudo isso passa.
E a nostalgia vem a nossa mente
Trazendo passados
Alegres e recentes.
Mas vai ficar tudo bem,
Vai ficar tudo bem...

Em um dia simples
Você vai acordar
E perceber que já passou
Abrirá as janelas
E agradecerá
Pois vai ficar tudo bem
Vai ficar tudo bem

"Cada Zé é um Ulisses, e cada vida uma Odisseia" - Eliane Brum


Acho que já comentei bastante pelo Facebook sobre esse livro (A Vida Que Ninguém Vê da Eliane Brum), só que ainda não o tinha lido por completo, ontem terminei de lê-lo e as palavras de Eliane ao final do livro foram as que mais me surpreenderam: "Cada Zé é um Ulisses e cada vida uma Odisseia".
Analisei bastante essa frase, e notei que ela resume todo o livro e de fato toda a vida.
Ando tendo algumas confusões dentro de mim, não sei de fato o quê... É como se eu estivesse ansiosa por algo novo, cansada das mesmas coisas sempre. Bom, isso pode ser uma das consequências do pensamento imediatista de nossa geração: a ansiedade por algo novo, mas de qualquer forma acredito que ando tendo momentos de tédio, de puro tédio existencial; a procura de algo que faça realmente minha vida servir de uma boa estória pra contar para os netos e não várias páginas repetidas, não momentos repetidos.
Esse livro me encontrou no momento certo, no momento em que o cansaço me resumia, o cansaço de acordar e saber o que se vai suceder como se de alguma forma eu tivesse o script pronto para aquele dia.
Eu queria (e quero!) o surpreendente, o desconhecido! Quero viver algo novo, passar por situações que nunca passei,ter algum adjetivo adequado pra definir minha trajetória... De fato antes desse livro acreditava que minha vida fosse a mais ordinária e comum de todas, mas consegui entender um princípio importante: cada vida é simplesmente extraordinária, somos tão iguais quanto diferentes, tão comuns quanto singulares! Estava cansada de habitar no pluralismo, queria que alguém me visse com um olhar diferente, mais que isso; queria me ver sob uma nova ótica.
Outra coisa que aprendi: o olhar diferenciado.
Olhar para as coisas de forma diferente é nada mais do que desconfiar do óbvio, não ter medo de sair de nossas redomas rotineiras... Encarar o novo!
Minha vida é extraordinariamente ordinária, mais um princípio que devo colocar na cabeça, seguir em frente e encarar os mares confusos dessa minha Odisseia.

LER O TEXTO AO SOM DE: GOOD DAY - PAUL WESTERBERG

"Jesus Te Ama! (Mas eu nem tanto)" A Hipocrisia do Amor Cristão


O culto terminava ás nove horas. Era domingo, santo domingo da semana e irmã Maria não perdia um.
Fora criada na religião, era certo que trabalhava demais, durante toda a semana, mas sempre arranjava um tempinho pequeno que fosse para ir á igreja.
Usava saias compridas assim como seus cabelos meio danificados, era uma jovem senhora na verdade... Uma jovem senhora casada de quase quarenta anos.
Sua vida não estava tão bem; seus filhos estavam adoentados, o marido desempregado e seu emprego tomava-lhe todo o tempo, mas o sermão do Pastor prometia-lhe bênçãos vindouras, alegrias, vitórias... E todos esses sermões convencionais de neo-pentecostais. Irmã Maria ouvia e acreditava, seus olhos se umidificavam á medida em que a voz do Pastor se elevava com palavras e chavões típicos.
Nove horas e vinte minutos, este foi o horário do término do evento. Irmã Maria chamou seus pequenos e acompanhou seu marido até a entrada principal do templo, alguns irmãos falavam com ela, mas ela estava apressada... Tinha que acordar cedo.
O templo ficava em frente á uma avenida muito movimentada, por ali passavam todos os tipos de pessoas; com suas cores, cheiros, roupas, religiões e credos. Misturavam-se ao barulho dos carros, ás luzes da cidade...
Maria puxava os filhos com violenta cautela á fim de não serem atropelados, suas mãos o prendiam com força, em sua frente ia o marido segurando o outro filho com uma das mãos e a outra a bíblia.
Em uma das calçadas, muitas pessoas esbarravam na família, a parada do ônibus parecia ser mais longe que de costume.
Um rapaz de seus quatorze anos, escuro, mal vestido e sujo abrigava aquela calçada estava com um grupo de outras crianças parecidas usando drogas lícitas e até ilícitas.
Israel, um dos filhos menores da irmã Maria ficou a olhar os pobres meninos com uma expressão assustada: "Mas o que eles estão fazendo?" pensava o pequeno.
Maria, assim como o resto das outras pessoas nem se davam conta da existência dos mesmos, apenas seguia seu caminho, mas Israel não conseguia andar, estava perplexo!
Sua mãe seguiu o olhar da criança e em uma atitude explosiva tapou os olhos do menino.


    - Vamos embora Israelzinho, deixe esses pivetes pra lá!
E falava isso enquanto o puxava.
    - Mas mamãe... Jesus ama eles!
Maria não deu muita atenção ao que o filho dizia.
    - Jesus vai amar mais ainda se a gente for depressa pro ônibus, esses pivetes estão fazendo o que não devem, o caminho deles é o inferno!
Puxou seu filho com violência, regida pela pressa... Dominada pelo egoísmo.
Entrou no ônibus e seguiram seus rumos.
Era certo que suas vidas não estavam tão bem, mas o que importava aqueles garotos mal-vestidos?
Deus já havia falado com ela, o pastor disse que tudo iria melhorar...
Para ela o dia estava ótimo demais para ser estragado por pivetes pecadores.
Seguiram na "santa" paz de Cristo, ela com uma frase escrita em sua blusa: "Jesus te ama!".



Composições: Fé

Desespero;
Ápice das emoções escassas
medo da morte estantânea de
Tudo aquilo que já se sonhou,
Que se acreditou.

Morte das previsões de um tempo bom
Morte de olhos e sinceros sorrisos,
Sonhos perdidos na ambiguidade,
Dessa realidade.

Me perguntam: "Onde é que está tua fé? Para onde vais?"
Me questionam para onde foram as minhas certezas.
Existem momentos em que as respostas simplesmente não respondem.

Questões
De evolução e religião,
Guerras
Entre socialismo e capital...
Quando nada disso faz mais sentido,
No final o que é tudo isso?

Me perguntam: "Onde é que está tua fé? Para onde vais?"
Me questionam para onde foram as minhas certezas.
Mas sei, que haverá um dia em que Ele vai responder,
Sim, meu Deus vai me responder.


É aquilo que não se pode ver.
Nem se pode tocar.

É o sentido abstrato de que tudo vai melhorar
Sim, tudo vai melhorar.

Mais Um Texto Clichê


Já é clichê falar de como o governo anda ruim, de como o amor é a essência da vida, de como não se escuta de verdade Rock'n Roll e do quanto é bom a sensação de se dormir em dias de chuva.
É clichê falar disso e muito mais...
É clichê e por vezes até vergonhoso dizer "eu te amo", abraçar o amigo na frente de todo mundo, cantar bem alto no meio da rua,
Dar risadas estranhas no cinema...
É clichê dizer que o dia está bonito, enxugar os olhos de quem está sofrendo e falar: "Vai ficar tudo bem", ou até mesmo é clichê perguntar para o outro se estar tudo bem, mesmo quando o real sentido não se é de preocupação.
Tudo isso virou costume, costume, jargão, bordão... Clichê.
O que me perturba é saber se realmente estas ações partem de sinceridade, ou se elas moram no vazio e superficialidade que por vezes a rotina impõe: clichê.
Seja lá o que for, vivo dessas eternas manias rotineiras de dizer e fazer essas peculiaridades por vezes supérfluas...
Vivo de clichês, e as vezes me perco neles.
Clichê.


O Novo Sempre vem



"As pessoas mudam."
Disse isso hoje á tarde numa conversa com os amigos. Talvez eu tenha falado por falar, mas agora me dou conta do poder que essa frase me causa, principalmente agora. 
Pensei nisso o dia todo e percebi o quanto é estranho o tempo passar e certas atitudes que antes até condenávamos tornarem-se rotinas em nossas vidas.
A partir disso muitos pensamentos me vieram á mente: Será que um dia irei mudar? Será que a mudança alterará quem realmente eu sou? e o que realmente eu sou? Qual é a minha essência?
Basicamente nossas vidas não estão postas em solo firme, muito do que afirmava ser errado hoje considero certo, pessoas que eu confiei até um tempo atras me decepcionaram e assim por diante.
Hoje, aprendi que nada é certeza, tudo resume-se à duvidas e perguntas mal respondidas. 
Talvez eu mude algum dia, talvez não. 
O segredo é não ter medo. Não ter medo de mudanças, de tempos ruins... Não ter medo de mudar; não ter medo do novo porque de uma forma ou de outra, ele sempre vem.

Mera repetição

Sentir-se bem... Sentir-se mal.
Quando mais nada disso faz sentido, nada mais disso importa.
Acostumar-se a acordar e deixar passar o tempo torna-se a substituição personificada do que chamam de viver... Mas afinal, o que é isso?
"E viveram felizes para sempre" "Viver bem"... Poxa, nem sei.
Sabe quando a gente pronuncia muito uma palavra e depois nem sabe seu significado? Pronto! Acho que as pessoas fizeram dessa palavra uma repetição... Uma simples repetição vazia de significado e até de sentido.

Amargo


Não gostava daquele gosto amargo do café, mas apreciava a agressão daquela sensação, pelo menos mantinha sua sanidade, já que estava em um quase estado de coma (como quando estamos muito cansados).
O dia estava cor de sangue, o sol dava seu último vestígio de claridão, e ele estava ali como todos os fins de tarde: encostado á sua janela, aliás pequena janela em um dos últimos andares do Edifício onde morava.
André, este era seu nome.
Sua casa estava um lixo, e seu estado físico não era dos melhores; tinha tido um dia difícil assim como todos os dias de sua existência, mas não gostava desses dramas... Simplesmente sobrevivia, e era assim que tinha que ser.
Sua única companhia era a de um cachorro meio rabugento, das bochechas enormes e que babava o tempo todo. O detestava, mas de vez em quando até que era bom acariciar suas enormes orelhas puguentas, era um jeito sutil de distribuir o que tinha de sobra dentro de si, e isto era a carência.
Não admitia isso nas rodas de conversa que rolavam nos fins de semana com os colegas de trabalho, não gostava de expor o seu lado afetivo, ao contrário: fingia estar sempre bem e em possibilidade alguma deixava transpor as lacunas vazias da sua alma.
Tivera muitos relacionamentos, alguns sérios outros casuais, mas Ela não era rótulo. Não sabia rotular o que tivera com a mulher mais estranhamente linda que já vira...
Seu nome era Luiza, era neta de italianos, o corpo era até bonito, nariz perfeitinho,seus cabelos um buquê de cachos grandes e castanhos, e seus olhos... Ah! Seus olhos eram como grandes estrelas, mas não dessas estrelas arrogantemente brilhantes, na verdade eram tão tristes e sóbrios... Como aquelas estrelas solitárias, que quase ninguém vê. E fora essa singularidade que o aprisionara.


Luiza gostava de o manter preso á seus encantos, tinha um feitiço de mulher travestido nos suaves movimentos de menina meiga. De fato era meiga! Meiga, doce, amarga... Amarga!
Agora sim sabia o por que amava tanto aquela sensação agressiva e amarga que o café daquela tarde lhe trazia.
Ela era dona dele, e ele que se autodenominava "senhor de suas ações" via-se vergonhosamente como um dependente carente de apenas um olhar de afeição, como no dia em que ele a pedira encarecidamente para os dois passarem um final de semana juntos, e ela lhe disse que não, secamente, rudemente... Mas para ele tudo aquilo era lindo!
Era de um lirismo... Ela era tão... Tão cruelmente dona de si! E aquilo lhe encantava.
Mas houve um dia, não digo que estava chovendo (geramente certos escritores apelam para isso), na verdade era um dia comum, comum e á princípio descartável (como a maioria dos dias do ano), André tinha saído do trabalho, mas por mais que estivesse fatigado Luiza o fazia sentir-se como quando se acorda depois de uma noite bem dormida.
Iria encontrar-se com ela num bar próximo, ela tinha mandado um torpedo, e aquilo para ele nada mais era do que uma ordem.
Seus passos estavam acelerados, e seu rosto estava de cômico para ansioso... Estava com tantas saudades dela!
Atravessou a rua quase sem olhar as direções, para ele pouco importava se iria ser atacado ferozmente por um carro em alta velocidade; ao menos morreria feliz.
A reconheceu de longe, e neste dia estava mais estranhamente linda do que em todos os dias; adorava vestir-se inedaquadamente nessas ocasiões, todos a olhavam, riam de suas meias cor de laranja, um short jeans curto e desbotado,boina cinza.
Ela simplesmente os ignorava. Era tão segura de si!
Sentou-se com cuidado.
    - Desculpa a demora, o chef hoje estava um ditador... - Começara ele.
    - Não, não precisa se desculpar. O que tenho pra falar é simples e direto. Como você bem sabe, detesto rodeios.
Ela tinha a voz firme, firme e doce ao mesmo tempo.
    - Ok então fale. Mas antes, você já pediu alguma coisa?
    - Pedi uns sucos de laranja.
    - Poxa, sucos de laranja? Estou querendo tomar algo forte...
    - Não.
    - Por quê não? Não posso tomar...
    - Não é sobre isso. Estou respondendo a sua pergunta.
    - Que pergunta?
    - Aquela que você me fez antes de ontem.
André a olhou com os olhos indagadores, por alguns segundos relembrou o que de fato acontecera, e repentinamente todo ele começou a tremer como uma criança com frio em noite de chuva.
A mulher que mais amava, estava destruindo bruscamente seu castelo de areia, seu lindo castelo de areia... Seu estereótipo de vida perfeita com apenas um "Não". Não era um simples "Não" á um convite para passarem um fim de semana juntos; era um "não" para passarem todos os fins de semana de suas vidas juntos.
     - Então é isso? - Depois de alguns instantes.
     - Isso o quê?
     - Você simplesmente me diz "Não" ?
     - E eu deveria adicionar algo á isso? Desculpe-me, mas não posso. Acho que não te amo o suficiente, ou... Não tenho certeza se realmente te amo.
Ficara pensativo, questionando a si mesmo olhando-a dentro dos olhos. Queria ver algum vestígio de mentira ali, mas não... Conhecia aquele olhar, um olhar seguro, assim como toda ela.
Ela já tinha o respondido, e aparentava não ter mais o que falar, na verdade ainda procurava palavras.
Levantou-se e foi embora. A deixou analisando a cor laranja do suco, (quem sabe até comparando com a cor das meias, que seja!) Apenas foi-se, bruscamente. Não queria explicações, há coisas que simplesmente não necessitam disso, ao contrário; ás vezes machucam mais ainda.
Foi pisando no chão com força, revidando em tudo e em todos seu ódio contido por ter descoberto que o amor é espada... E a dor que aquilo causa, pode até te trazer sensações boas, mas a dor... A dor é sempre dor!
Desde então, faz as mesmas coisas todos os dias. Joga em cima do seu sofá velho sua pasta, tira seus sapatos sujos do dia, prepara um café forte e amargo, inconscientemente para trazer á sua memória a imagem dela.
E por mais que lute todas as vezes quando vê de sua pequena janela alguma garota esquisita de meias laranjas no meio do vai-e-vem da cidade, ele sobrevive.
Seu cão das bochechas enormes está ali e pra ele aquilo está de bom tamanho.









O Soldado que Chora


Passos ao chão, poeira subindo.
São eles; os soldados, os fortes que lutam e pela vida morrem.
Proclamados heróis e ostentando a honra como bandeira, continuam andando rumo á luta, rumo á guerra.
Tem em seus rostos a expressão endurecida de quem já passou por tudo... Por pelo menos quase tudo.
Caminham em silêncio e com cautela, como se qualquer movimento em falso denunciasse a catástrofe.

Mas por trás de toda essa fortaleza, habita a fraqueza. Ninguém imagina, mas esses olhos carregados de certezas, são nada mais do que olhos que choram.
Esses soldados valentes e fortes, também têm medo e muitas vezes fracassam em suas escolhas... Muitas vezes se frustram em suas guerras diárias.
Esses soldados não são nada mais do que humanos. Limitados.
Pessoas comuns que encontramos á cada passo, que esbarramos na fila do banco, que acenamos na rua...
São os que passam na frente da sua casa, os que ensinam com esforço no caos da educação nacional, os que dão sua vida por outros na segurança pública como policiais, os que vendem na beira da praia...
Esses soldados, mais do que tudo, somos nós mesmos.

A Revolução de Nós Mesmas



        Ligue a TV.
Estou te convidando para passear, para analisar e refletir sobre um tema não tanto discutido nos dias de hoje. Sei que você não deve está entendendo muito bem o que escrevo, mas já adianto que tudo isso não é desconhecido a seus olhos. Já de pronto, assim quando você aperta o botão, a primeira imagem que vem é de um comercial de cerveja. As praias sempre são ensolaradas, as pessoas parecem estar em um eterno feriado e as mulheres, geralmente seminuas, transformam-se em objetos comparativos com o próprio produto. Não é diferente das propagandas de carros que usam da clássica estratégia de que você irá conquistar a mulher dos sonhos quando comprar o carro do ano.

O reclame não dura muito e a novela das sete começa. Nessas tramas sempre existem núcleos, e em um desses um conflito se desenvolve: um homem, uma mulher e uma amante. Fazendo disso um romance, o autor induz o telespectador a aceitar o triângulo amoroso como uma nova modalidade do mundo moderno. E onde fica a mulher nessa história? Torna-se um objeto de prazer, um animal irracional guiado pelos instintos selvagens.

Mas se analisarmos, toda essa escravização machista regida pela mídia abrange muito mais do que comerciais e novelas; vem de um conceito formado pelas próprias mulheres de que “quanto mais bonita for, mas bem sucedida serei.” Não é a toa que a indústria que mais cresce no país é a de estética. Chega a assustar as lotações nos consultórios de cirurgias plásticas e os inúmeros cremes de rejuvenescimento. Tudo isso para ter o corpo igual ao da loira bonitona do comercial, ter o nariz da Ana Hickmann...

E não pense que essas mulheres são as que repudiam toda essa desvalorização ao verem tal comercial, programa ou novela, ao contrário; são elas as que assistem e invejam o corpo da loira, as que torcem pelo bom final do triângulo amoroso, e as que se imaginam desejadas pelo homem que comprou o carro. Simplesmente toda essa desmoralização está enraizada nos próprios conceitos da ala feminina brasileira. Está no complexo inferior, na autocomiseração em ser mulher.

E isso é ratificado com ênfase em meados de fevereiro, quando o carnaval toma conta do país. Não é difícil se ver mulheres completamente nuas pintadas, claro, para que não se perca a “prudência”, afinal, não se é permitido ficar completamente nua em público. E ainda por cima se há uma disputa acirrada sobre quem deverá ser a rainha daquela escola. As vezes me pergunto se isso não é uma questão pessoal de cada uma, se isso não é apenas uma máscara para disfarçar que aquela Maria deseja ser rainha, pelo menos por alguns segundos. Se aquele desejo por brilho, não é uma vontade de ouvir: “Hoje você está bonita”.

Pronto. Desligue a TV. Agora você pode entender o que me levou a escrever. A revolta com tudo isso me incomoda profundamente. Acredito que ainda existe possibilidade de uma reviravolta, basta olharmos para nós e percebermos que valemos muito mais do que o que dizem. E não me contento em dizer que isso é uma revolução feminista, vai muito mais além; Estamos diante da revolução de nós mesmos.

Os Paradoxos da Geração Coca-Cola


Crescer vendo-se em um mundo que se transforma a cada dia, é um desafio que cabe á cada um de nós, pobres habitantes.
Diante de tantas reformas, guerras e períodos gloriosos; onde a inteligência evoluiu e pôde-se descobrir a cura para tantas doenças... Vemos que essa geração é por fim a mais irracional e desesperada desses últimos anos.


Desespero na verdade sempre foi um sinônimo relevante de cada indivíduo, porém o grande paradoxo que se alastra sobre estes anos é a irracionalidade da geração mais evoluída: a geração pós-moderna ou geração coca-cola (como na música).


Ao mesmo tempo em que estamos interligados mundialmente pela maior rede de computadores do mundo (a internet), estamos cada vez mais distantes. Ta aí outro paradoxo que me intriga...

As salas de bate-papos lotam, o número de usuários do Facebook aumenta cada vez mais, o jornal impresso cai dando lugar ao jornalismo virtual, as pessoas soltam indiretas pelo Twitter, e na realidade; nada muda.

Continuamos com o sinônimo que nos une: o desespero.
Tudo resume-se a isso.

O desespero de temer ficar só, de olhar para o lado e não ver mais ninguém. De comer sozinho na cozinha, de assistir á reprises de séries antigas em um dia de sexta-feira...

É impressionante o que a carência humana produz: Além de agregar alguns em salas de bate papo á procura de um amor, conduz á vários para uma verdadeira terapia em grupo, onde todos desabafam segredos numa rede mundial na qual todos vêem.

 É. de longe se vê que a sanidade não mais faz parte do vocabulário social e que apesar de termos evoluído conforme a cadeia hereditária, na realidade permanecemos os mesmos desesperados de sempre, a única diferença está na intensidade.







A Simplicidade Da Vida


Hoje não vim falar sobre poesia, nem livros "cult". Muito menos sobre filósofos que assim como todos nós também procuram o sentido da vida, nas palavras, demasiadamente difíceis.
Cansei de procurar nos dicionários palavras que se encaixem na definição certa do que realmente é a vida. Cansei de ouvir MPB por alguns dizerem que Chico Buarque é o poeta...
Cansei de fazerem um caminho por mim, e de caminharem com minhas pernas para um lugar onde me falam ser a sabedoria.
Existe algo á mais do que superlativos bobos de filmes premiados. Algo bem mais importante do que frases feitas em diálogos de livros de auto-ajuda.
Na verdade, existem coisas tão mais importantes que isso tudo, mais importantes que todo o mundo, que todo mundo no mundo. Existem palavras tão mais essenciais que os nomes científicos, existe mais humanidade do que Homo Sapiens.
Existem os "Você está bem?" sinceros na multidão dos "Eu te Amo" fingidos... 
Há mais do que roupas caras e carros conversíveis do ano... Muito mais do que Outdoors de modelos de roupas caríssimas.
As coisas simples da vida, sim, os detalhes são os que mais importam nessa jornada. Sei que isso é bem clichê, mas no final de sua vida você provavelmente não irá lembrar de quanto foi seu apartamento beira-mar, ou que cores foram seus vestidos de gala.
O que realmente importará nisso tudo serão os bons momentos, as boas risadas com os velhos amigos, o abraço apertado, os olhos molhados depois de um filme emocionante com a família, um belo pôr do sol no fim da tarde de um domingo, a cor dos olhos de quem você um dia amou... Enfim, fica evidente de que tudo passa e que essas parafernálias e objetos materiais são tão banais quanto fúteis.
Por isso não vale a pena esquentar a cabeça com essas ou outras coisas... Aproveite, viva!
Porque afinal, você nem sabe se amanhã estará vivo.

A sabedoria da vida habita na simplicidade de quem vive.