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Alguém Que Decifre Os Meus Códigos


Um dia desses me olhei no espelho, por motivos de tédio e não me reconheci.
Estava com uma aparência diferente da de anos anteriores. Talvez um pouco mais bonita, se bem que não tenho tantos pontos positivos nesse requisito. Os sinais do tempo estavam todos ali, e por mais que muitos defendam que o exterior não mostra o interior... O tempo estava denunciando através de minha aparência que eu havia mudado.
Meus olhos permaneciam os mesmos, com sua tonalidade original, mas meu olhar, meu jeito de olhar era diferente. Minha boca ainda era a mesma, porém minhas palavras pareciam mais desconexas que antes, e sem fundamentos.
Eu procurava algo naquela imagem, aquilo me deprimia. Eu procurava por mim mesma e por mais que estivesse ali, sabia que já não era a mesma.
Há quem diga que nosso futuro dependerá de todos aqueles sonhos convencionais que nossos pais sonharam para nós.
Muitos dizem que tudo dependerá decisivamente de outra pessoa que irá nos completar e carregar nosso fardo pesado.
Definitivamente acredito nessa teoria...
Não sei nada além de meu nome e de onde vim, mas isso não me define, ser um poço fundo de dúvidas é atormentador.
Quero alguém que decifre os meus códigos, que enxergue o que há por detrás dos meus olhos cansados.
É sempre esse o fim dos desesperados, ser acolhido por outro.
Mas o que me intriga é esse paradoxo que contemplou o evangelho pregado por Jesus. Essa obssessão de se ajudar os outros, mesmo quando suas dúvidas são as mesmas que as do ajudado.
Sou um poço de dúvidas e inconstâncias, porém, procuro sempre olhar ao lado, na esperança de que alguém me explique o que está acontecendo e com isso me faça descobrir quem sou de verdade.
Talvez eu esteja vivendo uma crise de idade, ou quem sabe de identidade, mas o cômico lado dessa esfera dramática da vida, é que alguém também procura por mim para decifrar seus códigos imperfeitos... Grande ironia!
Nos apoiamos em Deus por ele ser perfeito e ter respostas para todos nossos sofrimentos, mas o Mesmo Deus escolhe os miseravelmente humanos da terra para ajudarem outros. E isso é reconfortante... Saber que o outro também passou por fracassos, e que dentro dele também há um animal nos faz nos sentir menos constrangidos.
No final de tudo, não obteremos as respostas para as nossas perguntas e questões existenciais, isso á princípio pode soar um pouco pessimista, mas o que pode ser apaziguador numa hora dessas é saber que mesmo não se tendo respostas para tudo, mesmo não conhecendo nossa própria evolução ou nosso olhar diante de um espelho, o que me conforta é saber que existirá alguém que irá me abraçar e me fazer sentir uma humana como qualquer outra.
Porque afinal de contas:

"... Nós somos os protetores uns dos outros. Mais ainda: somos os guardiões da nossa própria humanidade." 

(Trecho extraído do Episódio 12 da 4º temporada do seriado americano Grey's Anatomy. Citação da personagem Meredith Grey)  

LER TEXTO AO SOM DE: BROKEN - LIFEHOUSE



Natal - De quem é o dia?


Enfim, 24 de Dezembro. Ao olharmos pela janela do quarto, naturalmente encontraremos casas decoradas com enfeites natalinos, portas contempladas com um "Merry Christmas" (mais uma prova que ainda vivemos sob um domínio estrangeiro), pessoas, talvez até desconhecidas nos saudando com graciosidade não vista em outras datas. Pinheiros imensos ornamentando a frente da cidade, vários homens vestidos de Papai Noel iludindo algumas crianças...
E sempre as tais repetições na TV, como alguns especiais de Natal, e uns filmes hollywoodianos na Sessão da Tarde, além de claro, a clássica música "Então é Natal" da Simone.
O dia, mesmo sendo diferente, na verdade é igual a todos os outros dias de natal. Por quê falo isso?
As famílias se reúnem em suas respectivas casas, comem até se fartar, trocam presentes no Amigo Oculto, mas no final de tudo isso... Sobram apenas alguns bêbados na rua, vários dorminhocos e algumas garotas preocupadas com o peso.
Amanhece, a roupa nova já foi vista por toda a cidade, muitos elogiaram a maquiagem e a escolha do sapato, e agora é só acordar e viver outro dia comum.
Mas o que me intriga é o porquê do esquecimento do essencial? Porquê todos se preocupam com ornamentações, roupas e glamour quando o que de fato é, na verdade é tão simples quanto importante?
Dia 25 de Dezembro é o aniversário do Salvador do Mundo. É o dia mais especial do ano, por se fazer menção ao ser que mais amou e que mais ama na face da terra e em toda a galáxia!
É impressionante como as pessoas não se dão conta disso... Ao invés disso preferem viver esse dia como um dia marcado de vermelho no calendário da cozinha.
Infelizmente o Natal deixou de ser um dia propriamente ingênuo onde o objetivo é a lembrança de Jesus, para ser mais um desses dias comerciais, onde as pessoas fartam-se dos seus bens, comem e se esbanjam de roupas novas para permanecerem os mesmos, fazendo dessa data tão importante, uma desculpa banal para ser novamente fútil.


Uma Maria não sei de Quê

"Enquanto houver sol... Ainda haverá"

Maria cantava essa música enquanto andava para ir á parada de ônibus. Seus olhos eram limpos e castanhos, assim como o frescor daquela manhã de dezembro.
No jornal anunciava ser verão, ela sabia que inevitavelmente o clima influenciaria seu humor para o fim de ano.
Eram seis e vinte e cinco da manhã, os ruídos dos carros já eram notados, e a cidade já estava acordada... Na verdade, a cidade nunca dormia. 
Apesar de estarem limpos, não se disfarçavam as olheiras que encobriam os mesmos olhos. Seu semblante aparentava estar abatido, era magra, cabelos não tão arrumados.
Maria não era bonita, também não era feia.
Tinha sua fisionomia de um exótico, que ao mesmo tempo misturava-se com o comum de tantas "Marias" brasileiras...

"Quando não houver saída..." Continuava cantando. Sua voz mais parecia com um sussurro surdo, talvez por timidez, já que se tinham algumas pessoas na parada do ônibus.
Apesar de tudo aparentar ser belo, sua vida não era de todo flores. Conhecia bem os espinhos, essas metáforas baratas em tudo abrangiam sua vida.
Tinha vinte e um anos, e um monte de sonhos... Uns possíveis e convencionais como o de se formar, ter um emprego fixo, casar e ter uma família estruturada, e outros tão altos e talvez impossíveis, que até se ria deles.
Seus sonhos eram seu ponto de escape nas tantas inconformidades e frustrações em que convivia rotineiramente.
Tinha sido iludida por um cara, engravidara do mesmo na adolescência, em consequência perdera os estudos. Sua filha tinha seis anos, e ainda morava com sua mãe.
Seu pai, estava em coma á dois meses desde um acidente que levara e não se tinha um resultado positivo segundo os médicos.
Sua vida estava tão confusa quanto um trânsito congestionado, porém seu rosto apenas denunciava calma naquela parada de ônibus.
Cantava tranquilamente esse clássico dos Titãs "Enquanto Houver Sol", como uma modinha ou fado português... Talvez não estivesse se dado conta ou analisado a letra em si...
Grande ironia! A tal letra falava de esperança, logo pra ela. Logo para aquela menina dos sonhos frustrados pela vida.

Na verdade nada importava para ela. O que realmente era importante era saber que aquele dia estava incrivelmente lindo. Ela precisava acompanhar o ritmo da cidade e ir trabalhar.
Um ruído tinha juntado-se aos tantos daquela rotina; era o ônibus aguardado de Maria. Provavelmente aquele seria mais um dos seus dias iguais, na grande luta de cada dia, das vinte e quatro horas batidas no tic tac do seu relógio de pulso.
Subiu no ônibus com sua mochila de sempre. Acomodou-se em um dos primeiros assentos, observou a janela como fazia de costume e voltou a cantar sua música do dia... Aquelas em que não se sai mais da cabeça:
"Quando não houver esperança,
Quando não restar nem ilusão.
Ainda há de haver esperança
Em cada um de nós
Algo de uma criança."

O ônibus seguiu seu caminho, e a cidade continuou seu barulho, como música, que misturava-se á cada sentido com os cantos de tantos outros como Maria.

LER ESSE TEXTO AO SOM DE: ENQUANTO HOUVER SOL - TITÃS

"Viver é Melhor que Sonhar"


Se eu quisesse falar sobre como o dia estava belo, o céu azul e o sol grande, talvez não teria importância para você. A maioria das pessoas falam sobre isso, até os jornais formalmente tratam sobre o assunto. Porém, hoje, para mim foi um dia especial. Tudo estava realmente belo, não tão espetacular para alguns, acredito, mas relativamente inesquecível para mim. Todos os momentos, todos os contrastes, todas as pessoas que cruzaram comigo na rua fizeram-me bem hoje. Não sei o que é isso, talvez eu apenas esteja com minha estima alta ou quem sabe algum passarinho verde me contou um segredo... Mas definitivamente hoje foi diferente.
O impressionante é que para muitos, o dia de hoje não foi tão bom quanto pra mim, e essa ambiguidade toda me assusta.
O que julguei hoje ser um dos melhores dias de minha vida, para muitos será um dos dias mas detestáveis e por conta disso; inesquecíveis.
Agora descubro que essa ambiguidade não só me assusta quanto me angustia...
Esse dia irá passar e provavelmente tornará-se como uma fotografia envelhecida pelo tempo, presa á meus pensamentos vindouros.
Queria muito que fosse assim sempre, que o tempo parasse nesses instantes bons, e que nada de ruim mais acontecesse. Queria que todos esses fardos antigos fossem embora e que esses fantasmas do passado me abandonassem.

Mas não me apavoro tanto. Talvez seja apenas um surto de auto-estima (como já disse), ou um dia muito bom. Não sei (Nunca tenho certeza das coisas), o que me resta agora é esperar pelo dia de amanhã. Confesso que tenho medo de esquecer o de hoje, mas amanhã será diferente...
Ruim ou bom, mas será diferente.

LER TEXTO AO SOM DE: COMO NOSSOS PAIS - BELCHIOR

O Mal do Século


Posso dizer com veemência que a tristeza da alma é a doença do século.
Estamos vivendo em uma geração artificial, que esconde suas lágrimas, ora em doses altas de álcool, ora em farras e conversas que denunciam o vazio de suas existências. 

O cansaço da mesmice de sempre, o olhar vazio de foco, o sorriso vazio de vontade, a vida em si perdida em uma grande parte de um todo...
Nos iludimos na ideia de que talvez um dia encontraremos alguém que nos complete, que nos abrace, que diga algo sem falar nada... Alguém que queira carregar nosso fardo tão pesado...
Mas e se isso for uma ilusão? E se não existir a tal "Outra Metade", a escolha então será nossa: Permaneceremos como metades ambulantes que correm por aí fazendo de suas vidas uma eterna caça de outras, ou tentaremos nos completar nos barzinhos, nos livros cultos e nas tragadas de uma droga ilícita?
Nossas vidas são comparadas á corredores escuros (Estou farta de metáforas baratas, mas não consigo parar de usá-las).
Nossos jovens se drogam, se vendem e se matam, e tudo o que nos perguntamos é o porquê das coisas. Não assistimos filmes românticos apenas para apreciar a beleza dos protagonistas; de fato acreditamos que aquilo exista, mesmo que de uma forma exprimida, mesmo que aquilo seja tão irreal quanto uma nota de três reais.
Todos caçam a tal da dona felicidade, uns admitem nem saber onde mora, outros exaltam-se dizendo que são íntimos.

Convivemos, e as vezes até somos os próprios perdidos e metades ambulantes. A vida ás vezes nos leva e a gente simplesmente escolhe o piloto automático.
Se realmente a felicidade mora ao lado não importa, uma coisa tenho certeza: a tristeza da alma é uma doença de nossos tempos, e cada vez mais a mesma vêm conquistando adeptos.

"Deus seja a Solução!"


Um Dia Verdadeiramente Bom


De uma janela de ônibus comecei a ver a vida. Eram tantas pessoas diferentes, cores diversas e olhares que denunciavam estados de espíritos também diversos...
Cada pessoa me incentivava mais a descobrir esse universo estranho e fantástico em que vivemos. Ora o caos deste mundo parece-me triste e constrangedor, ora mostra-me ser um perfeito paradoxo, onde o bonito e feio se entrelaçam de maneira surpreendente.
E o que me fascina, é que o dia, só torna-se incrível quando todos esses elementos se fundem. Não é que eu goste de ver sofrimento, mas a maior paz é sentida em meio a guerra, e não em tempos de bonança... Assim também falo desses dias em que estamos vivendo; dias de angústia e de profunda solidão, que na maioria das vezes se é sentida quando estamos acompanhados (Para ver o post que fala sobre "A Solidão de se estar em Maioria" Clique Aqui). Dias em que muitas tragédias externas e internas vêm acontecendo, juntamente com o desespero que o olhar traduz, vindo do caos... Mas como eu sempre disse, a maior beleza do caos é conseguir encontrar a solução.

Um dia bom, como comentei no post "Eu Rabisco o Sol que a Chuva Apagou" é o dia em que tudo pede o contrário, e em que o maior paradoxo se desenvolve: conseguir agradecer a Deus por existir em meio á tantas guerras e frustrações.
Por isso, não existe mais aquela frase: "Amanhã será melhor", o hoje pode ser diferente, porque as circunstâncias não são suficientes para nublar um dia propriamente e verdadeiramente belo.

Composições

OBS: Esta é uma letra de uma canção que compus hoje. Fala muito sobre a nossa superficialidade, que ás vezes é tão natural que nem nos damos conta, posso dizer com exatidão que basicamente todo mundo já fez algum dos ítens que contém na letra.

Máscara de Ferro

Todo mundo
Já fingiu ser alguém
Que na verdade não é.
Todo mundo
Já sorriu sem vontade
E ninguém percebeu

Todo mundo já chorou por amor
Todo mundo já mentiu sobre a dor
Todo mundo se esconde atrás do cobertor
Pra ninguém descobrir
O seu refúgio secreto
E retirar sua máscara de ferro

Todo mundo
Já afirmou odiar alguém
Na verdade o amando
Todo mundo
Já se sentiu solitário
Mesmo estando em multidão

Todo mundo já se desesperou
Todo mundo já mentiu sobre a dor
Todo mundo já... Se ausentou
Pra ninguém descobrir
O seu refúgio secreto
E retirar sua máscara de ferro

A Solidão de se estar em maioria


É rotina minha levantar cedo, tomar um café forte, pegar o ônibus de destino, olhar pela janela e ver se o tempo está ou não bom...
Esfregar os olhos enquanto bocejo pelo sono mal dormido, escutar uma música, checar uns emails no computador... Nossa já tenho 300 amigos no Facebook! Preciso atualizar o Antivírus... O cara que criou a Apple morreu?! 

Ando sempre do lado direito da calçada, por medo de ser atropelada, gosto de Chocolate ao Leite e Comédias românticas.
Estou nesse momento pisando nas poças de água da cidade, luto contra uma multidão nessa avenida movimentada...
Agora chove. Todos se abrigam em seus guarda-chuvas e eu fico desprovida, molhando-me banalmente.
Ninguém me enxerga; sou mais uma entre muitos, que talvez sejam como eu.
Não é que eu queira sair do anonimato, ás vezes prefiro ser assim mesmo. Mas a dor maior é que ninguém irá se importar...
Do que adianta estar em uma grande cidade, pólo dos sonhos dourados, com 300 amigos virtuais, viver acompanhada de pessoas, se no final de tudo volto a ficar sozinha em minha cozinha olhando para um prato e assistindo á uma reprise de seriado americano?

Sei que sou muito mais do que isso... Mais do que maioria.
Tenho tantos sonhos, tantas expectativas, tantas besteiras para conversar na calçada, tantas estrelas para contar e dar nomes...
Mas desejo tudo isso acompanhada, pode ser de poucos, mas que sejam os que me façam me sentir incluída... Existente.

Enquanto isso, o Eco é a minha única companhia. O Eco, o computador e um violão velho.

Olhos Afogados

OBS: Fragmento do livro Ponte de Dezembro, que estou escrevendo.


Eram dez e quarenta e cinco, e como sempre André estava trabalhando no bar. Por lá passavam-se vários rostos, na maioria conhecidos da comunidade.
Sabia seus nomes, algumas informações a mais, mas não de fato suas vidas.

Alguns vinham com amigos, jogavam cartas, e saíam apoiados uns nos outros. Casais bebiam enquanto discutiam relações... Por várias vezes André viu rompimentos de namoros. Era triste, sempre admitiu, mas ficar de observador nessas horas tinha lá suas ironias. Vários moleques vinham mentir a idade em busca da bebida fermentada que viam na TV e era até engraçado negar e frustrar seus planos.
Mas já era fim de expediente, e André, pensativo ficou a observar o último bêbado do recinto. Um senhor de uns quarenta e tantos anos. Já tinha tomado inúmeras garrafas, os cabelos estavam bagunçados, olhos dormentes, o rosto manchado de uma maquiagem que aparentava ser de palhaço. Sua roupa era um tanto espalhafatosa. Lia-se naquela imagem que tinha perdido o emprego.
Aquilo lhe chamou a atenção.
Sempre pensara que os palhaços eram felizes e que nunca tinham momentos ruins. Talvez esse pensamento fosse infantil, mas tudo desmoronara naquele momento.
O homem de rosto manchado agora falava sozinho, resmungava palavrões e condenava o presidente da república. Dizia morar num país ingrato, murmurava contra todas as pessoas que tinha feito sorrir. De que adiantava agora? Onde estariam? Provavelmente em suas casas com empregos garantidos e carros conversíveis na garagem.

André estava profundamente comovido, na verdade não sabia o que fazer para ajuda-lo, ora, de que adiantaria conversar com um bêbado? Eram quase onze horas e precisava fechar o bar, mas antes... Antes tinha que falar com ele.

     - Moço... – Começou timidamente.
O homem parecia não ouvi-lo, estava mergulhado em seu mundo, preso á diálogos invisíveis.

     - Moço, desculpe... Mas – Continuou

     - Eu quero mais um litro de Vodca. – Respondeu com dificuldade.

     - O negócio é que eu vou ter que fechar agora. – Finalmente concluiu.

     - Eu sei meu rapaz, mas... Você entende o que é não querer voltar pra casa?

Os olhos do bêbado estavam afogados. Afogados em um mar de desespero, André via aquilo e lutava para não chorar com ele.
“Que situação.” Pensava ele. O que faria um homem não querer voltar pra casa? O que o faria desejar um bar de esquina como lar para suas descrenças e frustrações?
Se André não conversasse com aquele homem, provavelmente não dormiria a noite. E com preocupação sentou ao lado do tal com uma flanela em seu ombro esquerdo.

    - O senhor não quer limpar o rosto? – Disse estendendo o tecido.

    - Obrigado – Respondeu já limpando o rosto. – Não quer me acompanhar com a Vodca?

Ele não estava tão fora de si quanto pensava.   

    - Não. Eu não bebo. –Respondeu esfregando as mãos.

    - Que estranho. Um rapaz que trabalha em um bar não beber   – disse rindo - Grande ironia.

    - É estranho também se ter um palhaço chorando – Respondeu com um sorriso tímido.

    - Eu não sou palhaço. Pelo menos não mais. – Disse com franqueza.

André já tinha concluído que ele perdera o emprego.

    - O que aconteceu? – Perguntou com receio. – Você perdeu o emprego?

    - Não era simplesmente o emprego; era na verdade minha vida. À anos faço as pessoas sorrirem em um circo profissional, mas o egoísmo humano é miserável.- Dizia isso enquanto quase quebrava o copo.
Sem a maquiagem manchada não era tão velho quanto aparentava. Acho que uns trinta e nove anos lhe cairiam bem.

   - E o que levou você a perder o emprego? – Insistia André.

   - O Circo não estava indo tão bem financeiramente. Os donos simplesmente tomaram toda a grana arrecadada, e vendo que estavam prestes a falir, sumiram, deixando todos os profissionais da área... Assim como eu – Respondeu com vergonha.

   - Mas isso é crime! Vocês deviam denunciar. – Complementava André com ira.
O bêbado (Não tão bêbado) agora ria sarcasticamente. André entendia o porquê.

   - Aqui nesse país não tem vez pra pobre. Você deve saber disso. Os caras devem estar á essas horas em Madrid ou Paris... De que adianta denunciar?
André pensava e revoltava-se contra o sistema. Não era justo aquela situação. Em silêncio imaginava como seria a vida do rapaz daquele momento em diante. Tentava idealizar aonde iria depois dali. Percebera que possuía uma aliança. “É casado.” Pensou.

   - E onde você mora? – Perguntou.

   - Atualmente moro em tudo o que me parece uma casa. Sou do interior de Minas.
O sotaque denunciava isso.

   - Faz quatro anos que não vejo minha mulher e filhos... – Seus olhos novamente estavam afogados, como no início. – Junto dinheiro fazendo alguns bicos como palhaço nos semáforos para conseguir uma passagem pra casa, mas...

   - Mas...?

   - Mas ao mesmo tempo, não quero que minha esposa me veja nesse estado deprimente. Eu saí de lá dizendo que iria voltar com muito dinheiro e que iríamos morar sossegados em BH. – Falava isso olhando para a aliança. – Sou formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Belo Horizonte. Pretendia ter recursos para montar e produzir meu próprio espetáculo, para quem sabe sair por esse mundão afora espalhando arte e alegria junto com minha família. Mas esse país tem a mania de destruir nossos sonhos...
Aquela cena certamente nunca mais sairia da mente do rapaz André. Estava vendo muito além de suas quatro paredes internas, de seus problemas, concluíra a partir daquele momento que existiam muitos e muitos como aquele palhaço frustrado naquela cidade, provavelmente muito desses que esbarravam na avenida, e até no próprio bar.

   - Realmente está ficando tarde – Continuou o palhaço levantando-se e pagando a conta. – Tenho que ir embora agora rapaz.

André estava estático na verdade. Sentia-se impotente diante daquela situação.

   - Calma, calma... – Disse o rapaz percebendo que o homem ia embora. – E aonde você vai agora?

   - Não se preocupe comigo homem. Eu sei me virar – Respondeu com sinceridade. –E a propósito, obrigado por ter me ouvido. Hoje você me provou que a humanidade não está tão perdida como eu pensava.
E se foi, cambaleando pelo alto teor do álcool. André ficou ali naquela mesa, pensativo e estático. Provavelmente nunca mais o veria novamente. E o pior de tudo, não sabia nem seu nome.
Levantou-se e começou a limpar as mesas com certa tristeza e melancolia. E voltando para aquela mesa, junto com o dinheiro da conta, viu escrito no guardanapo:

“Francisco Lopes.
87452109”

Tic-Tac, Tic-Tac...


O inevitável sempre acontece.
Tem um momento em que me acordo e dou conta que o relógio está avançado. Olho no espelho e comparo minhas fotos de criança com o que sou hoje, vejo que muita coisa em mim mudou.
Aquele vidro espelhado tem um poder de denunciar... Denunciar e informar dolorosamente, ou quem sabe alegremente que o tempo passa e que nada no mundo é pra sempre.
Lavar o rosto é sempre uma boa forma de fugir disso, acordar de fato. Não é script de filme melo-dramático, mas tem vezes que sentimos uma saudade... Uma saudade não sei de quem, talvez dos momentos que passaram e que infelizmente não voltam.
As risadas na casa de um amigo, a inocência e a pureza de um abraço consolador, as piadas sem duplo sentido, as trocas de figurinhas...
É tudo tão recente, e tão longe ao mesmo tempo.
Não é que eu seja daquelas pessoas que vivem de passado, mas é quase sem querer... Eu choro por não ter como voltar.
E é exatamente nesses dias que Deus me surpreende e me diz que sempre existe algo novo para se viver.
Tudo bem, que têm momentos que não irão ser iguais aqueles em que vivemos no auge de nossa vida, mas o que vem de novo é sempre diferente, embora pior ou melhor, mas sempre diferente.

Por isso, uma coisa aprendi: Só iremos viver o novo, quando nos desapegarmos do velho.
Não quero terminar minha vida na varanda lendo um livro de auto-ajuda. 
Há muito pela frente, aventurar-se no desconhecido é uma das melhores escolhas á fazer, e viver é bom, tão bom, mas tão bom que sempre valerá a pena, chorar pelo que passou

Matrix de nossas vidas


Fiquei a observar a vida um dia desses. Era insano saber que ninguém me percebia, era estranho perceber que os olhares eram vazios, vazios como os meus.
Eles andavam como robôs, maquinalmente indo ás suas casas, vestiam-se formalmente, conversavam sobre os mesmos assuntos com as mesmas pessoas. Tinham em seus ombros o peso de algo invisível, que ninguém via, mas todos percebiam.
Estavam presos á correntes imaginárias, lutando contra a inteligência artificial estabelecida pelo sistema. Eram escravos da rotina e nem percebiam que o mundo em que vivem não passa de uma ilusão.
Por quê pensei isso? Só era uma anônima, que estava de pés descalços, olhando sem interesse pela janela do quarto. Não sei se foi o tédio que me impulsionou aquilo, não interessa, na verdade.
Eles não sabiam... E eu sentia-me culpada. Sentia-me culpada por não avisá-los, por não libertá-los das correntes.

Então em um momento súbito de puro impulso gritei de minha janela para aquele batalhão de desesperados: "Libertem-se de Matrix!"
Vários olharam, chamaram-me de louca e ignoraram meus gritos como se fosse á um dos lunáticos da avenida que exclamam constantemente suas insanidades.
Mas houve um que entendeu. Olhou-me com seus olhos de vidro e  como que despertando de uma hipnose fitou-me por vários minutos.
Nos conectamos e ele acordou de sua ilusão, mas já era tarde demais. O tinha perdido entre os tantos.

O triste é que não sei onde ele está agora... Não sei se suas correntes foram quebradas. Mas, olhe pelo meu lado, pelo menos eu tentei.
Cada um vive em seu castelo de areia particular, em sua Matrix tridimensional irreal... A pior parte é quando tudo se desmorona.

Estou novamente na janela do meu quarto observando os aprisionados na falsa ideia de que o verei novamente.
Sei que é quase impossível isso acontecer, mas algo dele está em cada um desses perdidos. O olhar gelado, os passos calculados...
Veio-me agora a vontade de gritar "Libertem-se de Matrix" novamente, mas sei que ninguém vai me escutar.

O que me assusta é a sensação de estar aprisionada também á uma Matrix pessoal. Acho que estou acorrentada em minhas paredes internas. E só agora percebo. Sou uma das que andam maquinalmente, das que conversam sobre os mesmos assuntos e com as mesmas pessoas, sou uma escrava da rotina.

Reconheci esse estado agora, e sinceramente isso me assombra. 
E agora quem me libertará de mim mesma?

LER ESSE TEXTO AO SOM DE FLAGS - BROOKE FRASER

As Máscaras da Superficialidade



Em algum dia de sua vida você já fingiu.
Todos nós um dia fingimos ser algo que na verdade não somos.
Nos tornamos camaleões que mudam de acordo com o ambiente e tudo isso denuncia a eterna busca de nossa identidade. A eterna mania de nunca nos encontrarmos.
Colocamos máscaras para disfarçar o que realmente somos.
E tudo é na verdade fuga. Abrigamos um medo embutido de descobrirmos a verdade. Um medo de descobrirmos o que realmente se esconde atrás das quatro paredes de nosso interior.
Não nos conhecemos e isso assusta. Não me conheço e a cada dia procuro saber o porquê de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Por quê eu gosto de Rock Britânico e Gospel? Por quê eu gosto de ler? Será que escutar rock faz de mim uma roqueira? Será que gostar de estudar faz de mim uma CDF?
O mundo é tão cheio de rótulos que as vezes até me perco neles.
E o engraçado é que as pessoas brigam por isso... "Você tem que escutar música de verdade, pagode não presta."
Um pedaço de pano, um argola no nariz, uma cor e um estilo de música não é o tudo o que define uma pessoa. Sou mais do que características, mais do que maioria ou minoria. Eu sou eu e nada pode mudar isso.
Me simpatizo com o socialismo, consumo como uma capitalista, mas não gosto de me rotular como nenhum dos dois.
É tudo vaidade.
Vivo em um mundo onde as pessoas julgam pela aparência.
Onde a discriminação predomina pelo simples fato do outro ser mais baixo ou escuro (entre outras características). 

Volto a dizer que tudo isso é uma fuga. Você pode ser a pessoa que oprime algum inofensivo por não gostar do seu jeito de ser ou qualquer outra coisa, mas não passa de mais um entre muitos que se frustram todos os dias por não ser aquilo que pensa que é.

Pessoas superficiais são, na verdade, pessoas vazias. E não pense que estou fora dessa lista. Todos nós somos ou fomos um dia superficiais, somos carentes de algo que não sabemos o que é, e por medo nos escondemos.

Vivemos em uma espécie de "carnaval invisível", onde os mascarados são o cara da venda, o tatuado da praça, a garota perfeitinha... A mulher fofoqueira da esquina, o ilusionista do semáforo.
Todos usam máscaras... E você não é só um observador, não é só um internauta entediado do dia (que por um acaso parou neste blog).


Então, qual é a sua máscara?

LER ESSE TEXTO AO SOM DE: IT'S NO EASY - FIVE FOR FIGHTING

"Luzes vão te guiar até em casa"

Admiro muito (e escuto) a superpopular banda britânica ColdPlay que vem mantendo sua personalidade mesmo com o passar dos anos. A banda é liderada por Chris Martin, que na minha opinião é um dos melhores cantores do rock atual.
E para complementar todo essa minha introdução, apresento a vocês a conhecida música Fix You (Consertar Você).


Consertar Você

Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso.
Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa.
Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir.
Preso em marcha ré.

Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto.
Quando você perde algo que não pode substituir.
Quando você ama alguém, mas é desperdiçado.
Pode ser pior?

Luzes vão te guiar até em casa
E aquecer teus ossos
E eu tentarei, consertar você

Bem no alto ou bem lá embaixo.
Quando você está muito apaixonado para esquecer.
Mas se você nunca tentar, nunca vai saber.
O quanto você vale.

Luzes vão te guiar até em casa
E aquecer teus ossos
E eu tentarei consertar você

Lágrimas rolam no seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Lágrimas rolam pelo seu rosto
E eu...

Lágrimas rolam pelo seu rosto
Eu te prometo que vou aprender com meus erros
Lágrimas rolam pelo seu rosto
E eu...

Luzes vão te guiar até em casa
E aquecer teus ossos
E eu tentarei, consertar você

Na encruzilhada da vida


Na avenida principal de uma cidade, no meio do caos do que chamam de sociedade, corre uma mulher desesperada.
Ninguém imagina o que está acontecendo com ela. Muitos comentam suas pernas, outros seu salto quebrado, alguns apenas esbarram em seu corpo, mas ninguém se questiona sobre o porquê daqueles olhos tão cheios de lágrimas e dor.

É jovem. Lhe daria vinte e sete anos. Nem feia, nem bonita. Seus cabelos voam no sentido do vento, mas ela corre contra; Contra tudo, contra todos. Sua violência é visível na raiva que deposita enquanto esbarra em um dos mais desconhecidos. Apesar disso, é a que mais se fere nos meio de seus poucos espinhos. Sua vontade agora é a de bater, bater em todos que a encontram nesse seu estado. Por quê a olham assim? Por quê sentem pena? Por quê riem?

Afinal, mesmo que alguém se compadeça, o final de tudo será o mesmo: anonimato.
Não. Ela não quer ser famosa. Na verdade prefere ser discreta, mas ao mesmo tempo luta para que alguém perceba seu desespero. Está confusa, desesperançada e desmotivada.
O que está acontecendo? Sempre fora tão forte... E agora...
Seu castelo tão bem escoltado desmorona não só sobre si, mas diante do mundo todo e em plena avenida.

Na verdade, anseia que um desconhecido a pare e pergunte o que está se passando, a convide para deitar em seu ombro para chorar suas dores, mas sabe que não está em um filme Hollywoodiano, e que com certeza nenhum Clark Kent irá levá-la para seu mundo longe de Krypton (realidade).


Ainda corre, e suas pernas doem, seu salto caríssimo já quebrou e não é de se admirar que tropece e caia.
Pára em uma encruzilhada movimentada. Os carros são violentos e por um minuto, um segundo na verdade lhe vem o pensamento de jogar-se sobre eles.
Em outro momento julgaria ser loucura, mas naquele instante parecia-lhe tão aprazível.

Pisca os olhos e acorda de algo parecido á um estado de hipnose. Percebe que tudo é uma grande tolice.
Para quê se desesperar tanto?
Olha para suas mãos e reconhece-se.
Seria uma covarde se desistisse de tudo, se simplesmente jogasse sua vida em um dos carros.
Percebe que seu salto está quebrado e senta-se na calçada do outro lado afim de consertá-lo. Levanta-se. Enxuga as lágrimas e ajeita o cabelo.

"A vida é dos fortes" Pensa ela.
Certa vez alguém lhe disse que viver é um privilégio de quem já é vencedor.
Decidiu acreditar naquela pessoa.
A maior beleza do caos é conseguir encontrar uma esperança; Concluiu isso de tal forma que voltou a viver. Mancando por conta do salto, mas ainda andando... E vivendo.



LER ESSE TEXTO AO SOM DE: SHADOWFEET - BROOKE FRASER

Não existe acaso


"...O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído"
Esse é um trecho conhecido da música Epitáfio da banda de rock nacional Titãs. Sempre ouvi essa música com uma espécie de melancolia, a letra nos traz um passado remoto sobre os nossos olhos, e a sensação de não termos alcançado nossos objetivos. E a pior parte vem: o tempo não volta atrás.
Toda a música deixa claro que quem a canta é um perdido que não sabe de onde veio e nem pra onde vai. Apesar de ser lindíssima, nos traz um sentimento tão derrotista, principalmente quando é escutada no final da tarde.

Hoje posso dizer que não sou a pessoa mais indicada para escutar essa música, já que descobri que não sou um acidente vinda de uma explosão... Não sou uma bactéria!

E você que está lendo esse post também não é.

Talvez tudo em sua vida concorra para o sentimento de autocomiseração. Sua família pode ser uma das piores da terra, você pode nem ser tão bonito, talvez tenha dificuldades de relacionamentos e não vê probabilidade de ser alguma coisa no futuro.

Não quero lhe falar sobre a teoria da criação, lhe obrigar a ler a bíblia ou discutir sobre religião. Mas Deus nos criou tão exclusivos, tão ímpares, pense comigo: Quem no mundo é igual a você? E se ele nos criou com essa singularidade é porque tem um propósito mais específico ainda. Tudo o que você passa, exatamente tudo o que acontece em sua vida tem um propósito. Você não é uma aberração, um acidente da natureza que anda sem rumo pela avenida ás meia noite. O que Deus mais quer que aconteça é que você descubra por si só o quanto Ele O ama. E Ele sabe exatamente a quantidade de dias que você irá passar na terra. Com certeza Deus não permitiria que nada na sua vida fosse descartado.

Então agora analise tudo o que está acontecendo com você! Se você se der conta de que tudo é para um propósito maior, suas escolhas serão menos difíceis.

E por favor, não deixe que a vida passe por você sem que antes você tenha descoberto o sentido dela!

Lindo Dia!




Sou evangélica, mas curto muito a banda Irlandesa U2. Principalmente por suas letras, e uma delas me chamou bastante atenção. A música Beatiful Day. Nela encontramos como podemos agradecer a Deus, e dizer que o dia é lindo mesmo quando as nuvens estão negras e o trânsito congestionado. Na verdade tudo depende de nossa motivação em respirar um novo ar, a cada dia.
A mensagem é poderosa, e é uma boa pra quem está se sentindo desencorajado.

"O Coração é uma flor que brota no chão rochoso..."

Abaixo a letra da música e o vídeo pra escutar simultâneamente.

 

Lindo Dia - U2


O coração é uma flor

Que brota no chão rochoso

Mas não há nenhum quarto,

Nenhum lugar para alugar nesta cidade


Você está sem sorte

E o motivo que você tinha para se preocupar

O trânsito engarrafou

E você não está indo a lugar algum


Você achou que havia encontrado um amigo

Para lhe tirar deste lugar

Alguém a quem você pudesse dar uma força

em troca de misericórdia


É um lindo dia

O céu desaba

E você acha que é um lindo dia

Não deixe ele escapar


Você está na estrada

Mas não tem destino

Você está na lama,

No labirinto da imaginação dela


Você ama esta cidade,

Mesmo que isso não soe verdadeiro

Você conhece ela inteira,

E ela conhece você por inteiro


É um lindo dia

Não deixe ele escapar

É um lindo dia


Toque-me,

Leve-me para aquele outro lugar

Ensine-me,

Eu sei que não sou um caso perdido


Veja o mundo em verde e azul

Veja a China bem na sua frente

Veja os canyons rasgados por nuvens

Veja o cardume de atum limpando o mar

Veja as fogueiras beduinas à noite

Veja os campos de petróleo à primeira luz e,

Veja o pássaro com um ramo no bico

Depois da enchente todas cores apareceram.


Era um lindo dia

Não deixe ele escapar

Lindo dia


Toque-me,

Leve-me para aquele outro lugar

Alcançe-me,

Eu sei que não sou um caso perdido


O que você não tem, você não precisa agora

O que você não sabe você pode sentir de alguma forma

O que você não tem você não precisa agora

Você não precisa agora


Foi um lindo dia...



Em algum lugar ás 2:30 da manhã...


Para ela a vida resume-se a rotina. Trabalha doze horas por dia, de sábado á sábado. É balconista em um Shopping. Sempre distribuindo sorrisos, mesmo quando tudo concorre para o contrário. Não é que ela não queira sorrir, simplesmente aquilo já não é tão natural quanto antes. diferença crucial entre o espontâneo e o automático.
Mora sozinha em uma kitnet na área urbana da cidade. Sente desconforto por saber que no outro dia não irá ter ninguém para lhe dizer um bom dia no outro quarto. Ou para lhe preparar o café (de preferência forte) com algumas torradas como sua mãe fazia. Nada de Coca-Cola com algum Mac-Lanche Feliz da McDonalds... Gostava de sentir o cheiro forte do café com leite, e aquele vaporzinho do fogão humilde. Mas ultimamente, algumas bolachas saciavam sua fome, afinal, não podia se atrasar para o trabalho

Sua família morava no interior, e de vez em quando visitavam-na. Mudara-se á pouco mais de um ano, e não tinha se adaptado á vida "adulta". Saiu de seu mundo com a esperança de conseguir um bom emprego, uma boa família, assegurar sua aposentadoria... Essas coisas convencionais.

Mas algo a perturbava nessa madrugada. Porque será que sentia dentro de si um vazio tão grande? Por que lhe doía tanto a ideia de gritar dentro de suas quatro paredes e absolutamente ninguém lhe ouvir?
Realmente queria saber qual era o real sentido da vida, já que pra ela tudo corria como se estivesse no piloto automático.
Nada novo lhe acontecia; Nenhum ganho na loteria, nenhum salto de pára-quedas no mundo de Alice, nenhum príncipe encantado a salvando de duas vilãs eternas: ela e sua vida monótona.
São 2:25 no relógio de Brasília. Não consegue mais dormir, pensando no que pensar, raspando o esmalte que acabara de passar sobre as unhas, num sintoma grave de puro tédio.
Liga seu computador e os raios artificiais inundam a escuridão de seu pequeno quarto. Digita qualquer coisa no programa Word. Apaga rapidamente. Abre seu navegador e entra em qualquer sala de bate papo que encontra no site de busca. Escolhe o primeiro apelido que lhe vem a cabeça... Lulu (todos a chamavam assim quando criança).

Após algumas ofertas indecentes, algum usuário chama-lhe a atenção. Um tal de Principe_Pedro.
Tudo o que ela sabe dele é que tem vinte e três anos, estuda Marketing e trabalha em um escritório. É de outro estado, diz ser carente, e lhe fala palavras doces, até lhe encoraja a viver. Diz que na vida, a rotina é a maior inimiga e que ser feliz é uma conquista não uma sorte.

Mesmo sem conhecê-la a chama de "Linda", "Amor", "Princesa".
Lulu, sente-se no céu! "Que homem perfeito" - Pensa ela.

Conversam sobre os mais variados assuntos, e na intimidade recente, Lulu acaba por revelar toda a sua vida. Diz suas intimidades, seus segredos mais profundos, seus medos, angústias, sofrimentos e traumas.
Principe_Pedro como um perfeito cavalheiro cala e consente. Diz entender tudo aquilo, fala que passou por situações parecidas e diz a ela que a ama.

Ela sabe que não é verdade. Talvez o tal Príncipe seja casado, tenha uns cinquenta anos, uma mulher dorminhoca que não vê suas idas na internet.
Mas ela finge que tudo aquilo é realidade, saboreia as palavras daquele homem, leva pra si seus conselhos e apaixona-se de mentirinha.
Os dois vivem uma intensa estória de amor e declaram-se apaixonadamente... Nem que seja por breves horas.
As horas se passam. Lulu decide sair da sala por obrigação... Na verdade queria prolongar aquela fantasia, mas o sono a chamava para a cama.

Despediu-se e foi para a cama sonhar com seu Príncipe.

Talvez, realmente ele seja um príncipe, ou um usuário tomado pelo tédio, quem sabe até um adolescente cheio de espinhas causadas pela puberdade... Isso não importa pra ela.

Amanhã, pelo menos irá trabalhar feliz.

 LER ESSE TEXTO ESCUTANDO: WALK ON - U2

Os Super... Humanos

Quando éramos pequenos, tínhamos a imagem da vida como um eterno colorido; Um desenho animado onde éramos os protagonistas. Morávamos no Castelo, e lá, podíamos fazer de tudo, até comer chocolate antes do almoço.
Tínhamos o sorriso no rosto por correr sem direção, e chorávamos por motivos simples como o de machucar o dedo midinho em uma das batidas de porta do quarto... Que dilema era o nosso!
Mas olhe para nós... Hoje.

Crescemos em tamanho, e por causa do tamanho chegamos até a pensar sermos fortes o bastante para vencermos as lutas da vida.
Não choramos na frente dos outros... Afinal, não somos fracos, não baixamos a guarda diante dos adversários, e nos controlamos para não sair correndo pelo meio da rua, em busca de liberdade, só para não ser taxado de loucos!

Mas basta um sonho ruim, um pesadelinho de nada, que corremos pras nossas casas e nos cobrimos com o cobertor na falsa ilusão que iremos ser protegidos... Mas o que abriga todo esse medo... É apenas o desejo de corrermos pra cama de nossos pais e nos aquecermos entre os dois, na espera pelo novo dia.

No fundo, ainda não crescemos. Somos crianças, tão ingênuas, tão inofensivas e frágeis quanto antes.
Nos abrigamos na máscara de um super-herói, mas não passamos de um Super... Humano.

Desabafo de um Insano


Esses últimos meses vêm sendo perturbadores para mim. Por mais que a calmaria já esteja sendo avistada, posso dizer que foram terríveis.
Claro que não irei detalhar o que de fato aconteceu, mas pensando nisso tudo e tentando me abrigar no desespero de uma pessoa, escrevi uma canção chamada "Desabafo de Um Insano".

Quando o desespero beira a insanidade, e a insanidade por si só pede socorro... E no fim só o que resta é a impotência e a fé Naquele que pode tudo: Deus.

"... Pois quando estou fraco é aí que sou forte. (...) Porque o poder de Deus se aperfeiçoa na minha fraqueza" Paulo - Coríntios (Esqueci o capítulo e o versículo)

O que me fascina na música é que ela é subjetiva, mas ao mesmo tempo coletiva.
Eu posso ter escrito essa letra em um momento angustiante de minha vida, mas você pode recebê-la de outra maneira. O esplendor da música é esse: agir no individual do coletivo.

Desabafo de um Insano

Eu não sei
O que está acontecendo
Minha mente está confusa
E ninguém está me entendendo.

Eu procuro por alguém
Que entenda o meu dilema
Não dá mais pra esconder
Eu só quero paciência

Quero desabafar (4x)

Vago pelas ruas
Á espera de um milagre
Por favor não feche a porta
Me dê solidariedade

Grito para os montes
Num sinal de insanidade
Meu Senhor, se estás me ouvindo
Vê minha precariedade

Quero desabafar (2x)

"Eu rabisco o sol que a chuva apagou..."

Hoje acordei com uma vontade de viver! 
Não sei se isso é comum, mas abri a janela e vi aquele sol forte queimando minha pele, contrastando o amarelo com o azul do céu.
Comecei a escutar algumas músicas aqui nos meus arquivos e fiquei ouvindo uma música secular chamada Giz - Legião Urbana. Parei, e pensei.
O estranho é que a letra falava basicamente sobre isso, mas de forma antônima... Quando em dia de chuva queremos rabiscar o sol.
Fique a matutar: Será que minha alegria depende do clima, depende se o sol vai ou não brilhar?

Sempre temos a ideia de felicidade assim: os dias claros, azuis e bonitos, onde os pássaros cantam e você corre entre as flores enquanto sente na pele o queimor do sol amarelo.

Mas o que dizer dos dias de chuva?
Quando não há um sol amarelo queimando sua pele, quando o azul do céu converte-se para o cinza e parece até que os pássaros se escondem? Porque escolhemos ficar em casa, enrolados no cobertor tomando sorvete e escutando alguma balada triste?

Aprendi lendo o livro "Uma Vida Com Propósitos" - Rick Warren, que Deus nos faz amadurecer certas atitudes quando o momento quer que façamos o contrário. E essa música me confirmou esse pensamento.

A felicidade de verdade não é aquela que depende de uma sexta-feira bonita, cheia de vida, recheada por momentos bons. Não. É bem mais do que isso. Ser feliz é rabiscar o sol que a chuva apagou. Recomeçar, sorrir em meio aos tempos chuvosos da vida.
É abrir a janela e vê um vendaval, mas mesmo assim respirar aliviado e perceber que há beleza até nos momentos que "não são bonitos".

Ser feliz é viver os dois lados da existência: o denotativo e o conotativo com excelência. Posso estar feliz enquanto realmente chove, e posso ficar angustiado em um dia ensolarado.

Não depende de climas... Nem de momentos...

Ser feliz é a motivação de se levantar da cama e se dizer um vencedor só por estar existindo. Porque essa é a maior prova de amor que Deus nos deu: viver! 

É tentar sorrir em todos os tempos, voar nas asas dos sonhos sem tirar os pés do chão.

Definitivamente, é rabiscar o sol que a chuva apagou.



A síndrome dos "Donos da Verdade"

Não é porque eu gosto de MPB e ele de axé que o o estilo dele é pior do que o meu. Já ouvi alguém se autodenominar "MpbFóbico" (se é que existe essa modalidade) e preferir Justin Bieber e afins... Mas olhemos para o mundo agora; o que ganhamos discutindo música, futebol, religião?
Vejo guerras em ascenção por discordância de ideias. Sejamos racionais não animais... Tudo isso é vaidade! 
Você que se diz "dono da verdade" não é mais um na multidão. Porque acredito na idéia de que todos somos relativos... Bem mais que isso: somos vulneráveis. Você pode se dizer contra a opressão de poder, mas quando se vê diante de uma situação onde tem todo o domínio, oprime os seus encarregados.
E agora? Onde mora sua verdade absoluta?
Na vida somos como um copo meio vazio, meio cheio... Por mais que queiramos ser, sempre nos está faltanto algo, e isso se mostra a cada passo que fracassamos ou vencemos.

Por isso sou a favor do respeito.
Não acredito em diferenças, acredito em diversidade. Posso ser contra sua opção sexual, sua crença, e até mesmo seu time de futebol, mas venhamos e convenhamos: de que isso importa no final?
Deus é quem nos julga, e enquanto esse dia não chega, ficarei por aqui mesmo, fazendo a minha parte e tentando entender seu mundo...
Porque por mais que o que eu acredito seja verdade, o sol continua nascendo pra todos na infinita misericórdia de Deus. Tanto para bons ou maus.

Então deixemos de brigar por besteiras, ou de nos autedenominarmos "donos da verdade"... Em qualquer dia desses você pode ser pego em contradição, e com isso se tornar um hipócrita.

Com isso confirmo o pensamento que todos nós somos vulneráveis... Podemos dizer uma coisa hoje e amanhã contradizermos com nossos atos.

E porque você acha que tem tantas guerras por aí?
Não adianta gritar por paz no mundo, se você não é pacífico, e até chega a ser extremista em suas ideias.

Fica a dica!

"A vida as vezes é tão simples, nós que a complicamos."