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"A liberdade é como o sol: o bem maior do mundo." Jorge Amado


Lendo alguns livros com caráter filosófico, sempre me dou com frases loucas como: "O que é liberdade?"
É engraçado ver as pessoas denotando isso, descrevendo isso como algo descritível, por assim dizer.
Não. Liberdade, meus caros, é tão livremente livre que assim nos livramos de explicá-la. Acho que defini bem.
É algo quase imperceptível, não a enxergamos, não a apalpamos, e a resposta é simples: há prisões invisíveis.
Prisões invisíveis são as mais cruéis, ditatoriais e sutis que existem. Não sabemos que somos livres, porque na verdade sempre estamos presos á correntes imaginárias; correntes de pensamento, de paradigmas...
Assim; não saber que é livre já nos torna cativos. 
É complexo.
Simples mesmo é quando nos vemos livres de algum jugo... Jorge Amado dizia que "A liberdade é como o sol: o bem maior do mundo." 
A sensação deve ser a mais simples, como enxergar o sol, depois de anos e anos vivendo sob a escuridão, bem como o exemplo de Platão no seu "Mito da Caverna". Os olhos ardem, os ossos sentem a sensação crucial de estarem sendo expostos ao calor, á luz.

Acho que foi exatamente assim que Malala Yousafzai sentiu-se ao ter se livrado, mais do que da bala em seu cérebro, das balas invisíveis do Talibã no Paquistão.
Enxergar as próprias correntes é o primeiro passo para se livrar da prisão, e Malala não tinha os canhões, nem muito menos a sofisticação dos métodos de guerra do regime de seu país; mas tinha a voz, tinha os dedos, tinha um blog. 
Ela denunciou a repressão em cima da não-entrada de meninas nas escolas. "Por quê não posso estudar?", "Por quê devo aceitar isso de cabeça baixa?".
O resultado foi dramático; um tiro no crânio e a possibilidade de não mais viver.
Pessoas protestaram, o país se mobilizou, a imprensa internacional televisionou os detalhes: "Será que morre?"

Felizmente, Malala sobreviveu e com a vida ganhou o prazer de entrar na escola novamente. Imagino que sua sensação foi a de como se estivesse nascendo de novo, nascendo livre.

Mas sabe... Milhões de meninas no Paquistão vivem o mesmo drama, outras, talvez, nem tenham noção que estão presas. Quais delas seriam as livres? 

Liberdade é sangue.
O preço da liberdade é sangue.
Malala sabe bem o quanto o doou.

Uma idéia fixa, mas não permanente


Sabe aquele amor do período romântico onde as pessoas, exarcebadas e de forma altruísta, iam até as últimas consequências por alguém, e incondicionalmente?
Acredito que não existe.
Analisei isso racionalmente por algum tempo, e isso não é absoluto, mas ao mesmo tempo é a idéia mais fixa que tenho nesses últimos dias.  
Não estou dizendo que não exista um amor de verdade, ao contrário, eu o defendo e o considero como esperança diante da banalização de tantos sentimentos humanos nesses tempos.
O que quero falar é exatamente sobre o pensamento de um amor completamente e altruistamente INCONDICIONAL.
As pessoas falam demais essa expressão e terminam por não se apegarem ao significado dessa palavra.
Segundo o dicionário, incondicional significa:
"Que não há restrições, não está sujeito a condições, é um estado absoluto, total, pleno, ilimitado." 

Quais são os requisitos para você ter um relacionamento com alguém, falo de qualquer relacionamento?

Basicamente a pessoa tem que ter boa índole, ter os mesmos gostos que os seus, ou pelo menos algo que se identifique com você.
De acordo com o tempo da convivência, a pessoa tem que estar disposta a lhe fazer bem, a ser sincera, mas ao mesmo tempo saber dosar as palavras para não lhe magoar.
Se o relacionamento for amoroso, o cara tem que ser romântico, sensível, compreensivo e ao mesmo tempo firme. A menina; carinhosa, não-ciumenta, confiante, auto-suficiente sem deixar de ser um pouquinho dependente.
Só eu que não consigo ver nisso tudo, altruísmo? Se eu ponho condições é porque não é incondicional, já que isso indica o contrário.

Nós sempre amamos alguém pelo que ela pode nos oferecer, seja materialmente, socialmente, afetuosamente... Nunca damos algo sem esperar em troca, isso é utopia. Os únicos amores incondicionais em que acredito é o de Deus e o das mães.
Acho que o motivo de nosso amor ser falho, é justamente por sermos egoístas por natureza. Eu só aceito uma pessoa por completo e a amo, se ela ME fizer bem, ME tratar bem, ser exatamente ou parcialmente como EU quero...

Queria experimentar, ao menos um dia, a sensação de ser menos mesquinha e amar a pior pessoa do mundo, esperando exatamente nada em troca.
É estranho, e é quase impossível.
O amor humano é falho, é frágil, mas é verdadeiro, é sincero o suficiente para revelar quem somos e por ser assim torna-se autêntico.
Ame, mas pense um pouco antes de usar superlativos absolutos para descrever um possível amor incondicional.
Talvez eu esteja errada, mas... Minhas idéias fixas demoram a se degradar.


SONETO XIV - Elizabeth B. Browning
Tradução: Manuel Bandeira 


Ama-me por amor do amor somente
Não digas: «Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua.» Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.