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Coração de lata



E um dia a gente acorda e percebe
que tudo mudou.
Os sorrisos são calculados,
as atitudes são medidas,
os abraços não são apertados,
a vitória, vencida.


Aquela pessoa que você amou,
que, de alguma forma, foi seu mundo,
hoje é um desconhecido, dono de seus "bons - dias"
Os que marcaram sua vida,
nem se dão conta do quanto,
tomam chuva e sol, sangram, como qualquer outro assassino,
que você insulta de sua poltrona.
 

Hoje o céu está azul,
Mas ninguém se importa,
A liberdade é uma prisão,
contida com balas de borracha,
suas lágrimas não são mais ureia, são produtos químicos de um gás lacrimogêneo. 


Esse país chora 

e seus gritos estão silenciados nos muros da cidade.
Ninguém é de ninguém,
ninguém é ninguém.


Há muito tempo que isso aqui morreu,
há muito tempo que você e eu morremos
a revolução começou quando nos demos conta disso


A morte que há não é só a física,
nem também a da democracia e das questões sociais;
Morremos no dia-a-dia, esquecendo do que nos faz gente.
Somos gente ainda ou viramos robôs?


Robôs que matam em questão de segundos
Matam almas, matam corpos, e quando
não há mais corpos, ou carnes, ou algo vermelho sangrando,
Ou algo inocente chorando, matam a si mesmos. 


No dia em que eu morrer, quero pôr a mão no coração
pra confirmar que não foi de bala,
No dia em que eu morrer, quero pôr a mão no peito
e perceber que não virei lata.