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Alguém Que Decifre Os Meus Códigos


Um dia desses me olhei no espelho, por motivos de tédio e não me reconheci.
Estava com uma aparência diferente da de anos anteriores. Talvez um pouco mais bonita, se bem que não tenho tantos pontos positivos nesse requisito. Os sinais do tempo estavam todos ali, e por mais que muitos defendam que o exterior não mostra o interior... O tempo estava denunciando através de minha aparência que eu havia mudado.
Meus olhos permaneciam os mesmos, com sua tonalidade original, mas meu olhar, meu jeito de olhar era diferente. Minha boca ainda era a mesma, porém minhas palavras pareciam mais desconexas que antes, e sem fundamentos.
Eu procurava algo naquela imagem, aquilo me deprimia. Eu procurava por mim mesma e por mais que estivesse ali, sabia que já não era a mesma.
Há quem diga que nosso futuro dependerá de todos aqueles sonhos convencionais que nossos pais sonharam para nós.
Muitos dizem que tudo dependerá decisivamente de outra pessoa que irá nos completar e carregar nosso fardo pesado.
Definitivamente acredito nessa teoria...
Não sei nada além de meu nome e de onde vim, mas isso não me define, ser um poço fundo de dúvidas é atormentador.
Quero alguém que decifre os meus códigos, que enxergue o que há por detrás dos meus olhos cansados.
É sempre esse o fim dos desesperados, ser acolhido por outro.
Mas o que me intriga é esse paradoxo que contemplou o evangelho pregado por Jesus. Essa obssessão de se ajudar os outros, mesmo quando suas dúvidas são as mesmas que as do ajudado.
Sou um poço de dúvidas e inconstâncias, porém, procuro sempre olhar ao lado, na esperança de que alguém me explique o que está acontecendo e com isso me faça descobrir quem sou de verdade.
Talvez eu esteja vivendo uma crise de idade, ou quem sabe de identidade, mas o cômico lado dessa esfera dramática da vida, é que alguém também procura por mim para decifrar seus códigos imperfeitos... Grande ironia!
Nos apoiamos em Deus por ele ser perfeito e ter respostas para todos nossos sofrimentos, mas o Mesmo Deus escolhe os miseravelmente humanos da terra para ajudarem outros. E isso é reconfortante... Saber que o outro também passou por fracassos, e que dentro dele também há um animal nos faz nos sentir menos constrangidos.
No final de tudo, não obteremos as respostas para as nossas perguntas e questões existenciais, isso á princípio pode soar um pouco pessimista, mas o que pode ser apaziguador numa hora dessas é saber que mesmo não se tendo respostas para tudo, mesmo não conhecendo nossa própria evolução ou nosso olhar diante de um espelho, o que me conforta é saber que existirá alguém que irá me abraçar e me fazer sentir uma humana como qualquer outra.
Porque afinal de contas:

"... Nós somos os protetores uns dos outros. Mais ainda: somos os guardiões da nossa própria humanidade." 

(Trecho extraído do Episódio 12 da 4º temporada do seriado americano Grey's Anatomy. Citação da personagem Meredith Grey)  

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Natal - De quem é o dia?


Enfim, 24 de Dezembro. Ao olharmos pela janela do quarto, naturalmente encontraremos casas decoradas com enfeites natalinos, portas contempladas com um "Merry Christmas" (mais uma prova que ainda vivemos sob um domínio estrangeiro), pessoas, talvez até desconhecidas nos saudando com graciosidade não vista em outras datas. Pinheiros imensos ornamentando a frente da cidade, vários homens vestidos de Papai Noel iludindo algumas crianças...
E sempre as tais repetições na TV, como alguns especiais de Natal, e uns filmes hollywoodianos na Sessão da Tarde, além de claro, a clássica música "Então é Natal" da Simone.
O dia, mesmo sendo diferente, na verdade é igual a todos os outros dias de natal. Por quê falo isso?
As famílias se reúnem em suas respectivas casas, comem até se fartar, trocam presentes no Amigo Oculto, mas no final de tudo isso... Sobram apenas alguns bêbados na rua, vários dorminhocos e algumas garotas preocupadas com o peso.
Amanhece, a roupa nova já foi vista por toda a cidade, muitos elogiaram a maquiagem e a escolha do sapato, e agora é só acordar e viver outro dia comum.
Mas o que me intriga é o porquê do esquecimento do essencial? Porquê todos se preocupam com ornamentações, roupas e glamour quando o que de fato é, na verdade é tão simples quanto importante?
Dia 25 de Dezembro é o aniversário do Salvador do Mundo. É o dia mais especial do ano, por se fazer menção ao ser que mais amou e que mais ama na face da terra e em toda a galáxia!
É impressionante como as pessoas não se dão conta disso... Ao invés disso preferem viver esse dia como um dia marcado de vermelho no calendário da cozinha.
Infelizmente o Natal deixou de ser um dia propriamente ingênuo onde o objetivo é a lembrança de Jesus, para ser mais um desses dias comerciais, onde as pessoas fartam-se dos seus bens, comem e se esbanjam de roupas novas para permanecerem os mesmos, fazendo dessa data tão importante, uma desculpa banal para ser novamente fútil.


Uma Maria não sei de Quê

"Enquanto houver sol... Ainda haverá"

Maria cantava essa música enquanto andava para ir á parada de ônibus. Seus olhos eram limpos e castanhos, assim como o frescor daquela manhã de dezembro.
No jornal anunciava ser verão, ela sabia que inevitavelmente o clima influenciaria seu humor para o fim de ano.
Eram seis e vinte e cinco da manhã, os ruídos dos carros já eram notados, e a cidade já estava acordada... Na verdade, a cidade nunca dormia. 
Apesar de estarem limpos, não se disfarçavam as olheiras que encobriam os mesmos olhos. Seu semblante aparentava estar abatido, era magra, cabelos não tão arrumados.
Maria não era bonita, também não era feia.
Tinha sua fisionomia de um exótico, que ao mesmo tempo misturava-se com o comum de tantas "Marias" brasileiras...

"Quando não houver saída..." Continuava cantando. Sua voz mais parecia com um sussurro surdo, talvez por timidez, já que se tinham algumas pessoas na parada do ônibus.
Apesar de tudo aparentar ser belo, sua vida não era de todo flores. Conhecia bem os espinhos, essas metáforas baratas em tudo abrangiam sua vida.
Tinha vinte e um anos, e um monte de sonhos... Uns possíveis e convencionais como o de se formar, ter um emprego fixo, casar e ter uma família estruturada, e outros tão altos e talvez impossíveis, que até se ria deles.
Seus sonhos eram seu ponto de escape nas tantas inconformidades e frustrações em que convivia rotineiramente.
Tinha sido iludida por um cara, engravidara do mesmo na adolescência, em consequência perdera os estudos. Sua filha tinha seis anos, e ainda morava com sua mãe.
Seu pai, estava em coma á dois meses desde um acidente que levara e não se tinha um resultado positivo segundo os médicos.
Sua vida estava tão confusa quanto um trânsito congestionado, porém seu rosto apenas denunciava calma naquela parada de ônibus.
Cantava tranquilamente esse clássico dos Titãs "Enquanto Houver Sol", como uma modinha ou fado português... Talvez não estivesse se dado conta ou analisado a letra em si...
Grande ironia! A tal letra falava de esperança, logo pra ela. Logo para aquela menina dos sonhos frustrados pela vida.

Na verdade nada importava para ela. O que realmente era importante era saber que aquele dia estava incrivelmente lindo. Ela precisava acompanhar o ritmo da cidade e ir trabalhar.
Um ruído tinha juntado-se aos tantos daquela rotina; era o ônibus aguardado de Maria. Provavelmente aquele seria mais um dos seus dias iguais, na grande luta de cada dia, das vinte e quatro horas batidas no tic tac do seu relógio de pulso.
Subiu no ônibus com sua mochila de sempre. Acomodou-se em um dos primeiros assentos, observou a janela como fazia de costume e voltou a cantar sua música do dia... Aquelas em que não se sai mais da cabeça:
"Quando não houver esperança,
Quando não restar nem ilusão.
Ainda há de haver esperança
Em cada um de nós
Algo de uma criança."

O ônibus seguiu seu caminho, e a cidade continuou seu barulho, como música, que misturava-se á cada sentido com os cantos de tantos outros como Maria.

LER ESSE TEXTO AO SOM DE: ENQUANTO HOUVER SOL - TITÃS

"Viver é Melhor que Sonhar"


Se eu quisesse falar sobre como o dia estava belo, o céu azul e o sol grande, talvez não teria importância para você. A maioria das pessoas falam sobre isso, até os jornais formalmente tratam sobre o assunto. Porém, hoje, para mim foi um dia especial. Tudo estava realmente belo, não tão espetacular para alguns, acredito, mas relativamente inesquecível para mim. Todos os momentos, todos os contrastes, todas as pessoas que cruzaram comigo na rua fizeram-me bem hoje. Não sei o que é isso, talvez eu apenas esteja com minha estima alta ou quem sabe algum passarinho verde me contou um segredo... Mas definitivamente hoje foi diferente.
O impressionante é que para muitos, o dia de hoje não foi tão bom quanto pra mim, e essa ambiguidade toda me assusta.
O que julguei hoje ser um dos melhores dias de minha vida, para muitos será um dos dias mas detestáveis e por conta disso; inesquecíveis.
Agora descubro que essa ambiguidade não só me assusta quanto me angustia...
Esse dia irá passar e provavelmente tornará-se como uma fotografia envelhecida pelo tempo, presa á meus pensamentos vindouros.
Queria muito que fosse assim sempre, que o tempo parasse nesses instantes bons, e que nada de ruim mais acontecesse. Queria que todos esses fardos antigos fossem embora e que esses fantasmas do passado me abandonassem.

Mas não me apavoro tanto. Talvez seja apenas um surto de auto-estima (como já disse), ou um dia muito bom. Não sei (Nunca tenho certeza das coisas), o que me resta agora é esperar pelo dia de amanhã. Confesso que tenho medo de esquecer o de hoje, mas amanhã será diferente...
Ruim ou bom, mas será diferente.

LER TEXTO AO SOM DE: COMO NOSSOS PAIS - BELCHIOR

O Mal do Século


Posso dizer com veemência que a tristeza da alma é a doença do século.
Estamos vivendo em uma geração artificial, que esconde suas lágrimas, ora em doses altas de álcool, ora em farras e conversas que denunciam o vazio de suas existências. 

O cansaço da mesmice de sempre, o olhar vazio de foco, o sorriso vazio de vontade, a vida em si perdida em uma grande parte de um todo...
Nos iludimos na ideia de que talvez um dia encontraremos alguém que nos complete, que nos abrace, que diga algo sem falar nada... Alguém que queira carregar nosso fardo tão pesado...
Mas e se isso for uma ilusão? E se não existir a tal "Outra Metade", a escolha então será nossa: Permaneceremos como metades ambulantes que correm por aí fazendo de suas vidas uma eterna caça de outras, ou tentaremos nos completar nos barzinhos, nos livros cultos e nas tragadas de uma droga ilícita?
Nossas vidas são comparadas á corredores escuros (Estou farta de metáforas baratas, mas não consigo parar de usá-las).
Nossos jovens se drogam, se vendem e se matam, e tudo o que nos perguntamos é o porquê das coisas. Não assistimos filmes românticos apenas para apreciar a beleza dos protagonistas; de fato acreditamos que aquilo exista, mesmo que de uma forma exprimida, mesmo que aquilo seja tão irreal quanto uma nota de três reais.
Todos caçam a tal da dona felicidade, uns admitem nem saber onde mora, outros exaltam-se dizendo que são íntimos.

Convivemos, e as vezes até somos os próprios perdidos e metades ambulantes. A vida ás vezes nos leva e a gente simplesmente escolhe o piloto automático.
Se realmente a felicidade mora ao lado não importa, uma coisa tenho certeza: a tristeza da alma é uma doença de nossos tempos, e cada vez mais a mesma vêm conquistando adeptos.

"Deus seja a Solução!"


Um Dia Verdadeiramente Bom


De uma janela de ônibus comecei a ver a vida. Eram tantas pessoas diferentes, cores diversas e olhares que denunciavam estados de espíritos também diversos...
Cada pessoa me incentivava mais a descobrir esse universo estranho e fantástico em que vivemos. Ora o caos deste mundo parece-me triste e constrangedor, ora mostra-me ser um perfeito paradoxo, onde o bonito e feio se entrelaçam de maneira surpreendente.
E o que me fascina, é que o dia, só torna-se incrível quando todos esses elementos se fundem. Não é que eu goste de ver sofrimento, mas a maior paz é sentida em meio a guerra, e não em tempos de bonança... Assim também falo desses dias em que estamos vivendo; dias de angústia e de profunda solidão, que na maioria das vezes se é sentida quando estamos acompanhados (Para ver o post que fala sobre "A Solidão de se estar em Maioria" Clique Aqui). Dias em que muitas tragédias externas e internas vêm acontecendo, juntamente com o desespero que o olhar traduz, vindo do caos... Mas como eu sempre disse, a maior beleza do caos é conseguir encontrar a solução.

Um dia bom, como comentei no post "Eu Rabisco o Sol que a Chuva Apagou" é o dia em que tudo pede o contrário, e em que o maior paradoxo se desenvolve: conseguir agradecer a Deus por existir em meio á tantas guerras e frustrações.
Por isso, não existe mais aquela frase: "Amanhã será melhor", o hoje pode ser diferente, porque as circunstâncias não são suficientes para nublar um dia propriamente e verdadeiramente belo.