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Matrix de nossas vidas


Fiquei a observar a vida um dia desses. Era insano saber que ninguém me percebia, era estranho perceber que os olhares eram vazios, vazios como os meus.
Eles andavam como robôs, maquinalmente indo ás suas casas, vestiam-se formalmente, conversavam sobre os mesmos assuntos com as mesmas pessoas. Tinham em seus ombros o peso de algo invisível, que ninguém via, mas todos percebiam.
Estavam presos á correntes imaginárias, lutando contra a inteligência artificial estabelecida pelo sistema. Eram escravos da rotina e nem percebiam que o mundo em que vivem não passa de uma ilusão.
Por quê pensei isso? Só era uma anônima, que estava de pés descalços, olhando sem interesse pela janela do quarto. Não sei se foi o tédio que me impulsionou aquilo, não interessa, na verdade.
Eles não sabiam... E eu sentia-me culpada. Sentia-me culpada por não avisá-los, por não libertá-los das correntes.

Então em um momento súbito de puro impulso gritei de minha janela para aquele batalhão de desesperados: "Libertem-se de Matrix!"
Vários olharam, chamaram-me de louca e ignoraram meus gritos como se fosse á um dos lunáticos da avenida que exclamam constantemente suas insanidades.
Mas houve um que entendeu. Olhou-me com seus olhos de vidro e  como que despertando de uma hipnose fitou-me por vários minutos.
Nos conectamos e ele acordou de sua ilusão, mas já era tarde demais. O tinha perdido entre os tantos.

O triste é que não sei onde ele está agora... Não sei se suas correntes foram quebradas. Mas, olhe pelo meu lado, pelo menos eu tentei.
Cada um vive em seu castelo de areia particular, em sua Matrix tridimensional irreal... A pior parte é quando tudo se desmorona.

Estou novamente na janela do meu quarto observando os aprisionados na falsa ideia de que o verei novamente.
Sei que é quase impossível isso acontecer, mas algo dele está em cada um desses perdidos. O olhar gelado, os passos calculados...
Veio-me agora a vontade de gritar "Libertem-se de Matrix" novamente, mas sei que ninguém vai me escutar.

O que me assusta é a sensação de estar aprisionada também á uma Matrix pessoal. Acho que estou acorrentada em minhas paredes internas. E só agora percebo. Sou uma das que andam maquinalmente, das que conversam sobre os mesmos assuntos e com as mesmas pessoas, sou uma escrava da rotina.

Reconheci esse estado agora, e sinceramente isso me assombra. 
E agora quem me libertará de mim mesma?

LER ESSE TEXTO AO SOM DE FLAGS - BROOKE FRASER

1 comentários:

Isak de Castro disse...

Nada é real!!!
Bom texto...
\o/

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