"La despedida" - Gastón Castello |
Ela
ajeitou o sutiã e apoiou de forma não tão confortável os cotovelos naquela
mesa. Sua língua assim como o resto do corpo gritavam para falar, mas o
silêncio calava. Ali estavam as pessoas com quem tinha dividido quase cinco
anos na fase da faculdade. Ali, no último dia de suas vidas como estudantes de
graduação; ali jogando e rindo como se fosse mais um dia normal e não talvez o
único em que estivessem na estranha fase de adolescente-jovem para
jovem-adulto.
Ela
olhava com fome para cada ser ali e o que se escondia atrás da risada e da
aparente normalidade era um medo feroz do amanhã e uma saudade doída da
companhia uns dos outros. Se iriam se ver ainda? Possivelmente sim, aquilo era
prenúncio para uma amizade que tinha tudo para explodir os muros da
faculdade.
Aquilo
iria durar pra sempre, não apenas o amor construído junto, nem o relacionamento
de criação conjunta, mas ela... Ah, ela já não era a mesma e o que viria a
acontecer seria assustadoramente novo e, quem sabe, tão belo quanto o que
descobriu viver entre conversas sem sentido, livros e risadas incontroláveis.
Não
era apenas disso que ela sentia falta, pensou depois que chegou em casa com os
olhos querendo molhar, o que mais sentia falta era da pessoa que habitou aquele
espaço espiritual do relacionamento de crescimento consigo e com outros seres
humanos. Pra onde essa pessoa iria agora? Quem irá acompanhar os
ossos já crescidos, a mão mais áspera, o olhar mais vívido? Quem irá abraçar o
bicho intermediário que acabara de crescer em tão curto espaço de tempo?
Percebeu que aquela despedida não era apenas dos amigos, da faculdade, da fase
de estudante... Aquela era mais uma despedida de si.
Estava
dando adeus a alguém que nunca mais existiria e ainda bem, e ainda assim... Que
sensação de luto a tomava. Os mortos precisam ser enterrados, mas também
precisam ser cortejados. “Obrigada por ter existido” ousou afirmar em
pensamento, enquanto comia um dos salgados da mesa e olhava para cada rosto
entretido com o jogo. Como em uma cena de filme, o som não existia, e a cada
sorriso dado e percebido pela pessoa do lado, entendia que a despedida, adeus à
morte de si mesmo e dos momentos já passados, também é prenúncio para algo mais
belo, maior e que só poderá ser experienciado com uma nova pessoa nascida,
crescida, dolorosamente crescida.
O
que virá do futuro é a angústia e delícia que fazia com que ela tomasse um ar e
percebesse que tudo é bonito! Seus amigos, aqueles momentos que pareciam ser
eternos e quase sempre tão curtos, as conversas intermináveis e sem sentido, o
momento impossível de ser segurado com a mão, a despedida embaraçada, o filme
com final esquisito, uma sensação de eternidade. Eternidade é, também, quebrar
os ciclos em busca do eterno novo. “E que venha”, pensou, “mas antes, deixa eu
chorar um pouquinho”.
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