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Codinome Solidão


Carol é conhecida por ter o mais belo sorriso, mas nem sempre sorri de verdade.
Carol sente medo do escuro. Ninguém sabe.
Carol gosta de café amargo e chocolates brancos. Nas horas vagas acompanha séries de adolescentes e tem vontade de gritar com aparições de atores bonitos na tela do cinema.
Carol aprecia a sensação dos seus pés na areia, chora com comédias românticas, chupa os dedos depois de comer um bolo quente e ainda arrisca dançar na chuva em tempos onde sua rua está vazia.
Ninguém imagina, mas ela ainda grita por sua mãe quando tem um pesadelo, e tem vezes que até tem medo de dormir novamente para não se ter continuações. Ninguém percebe, mas Carol é apenas uma menina meiga de 38 anos, casada e com obrigações convencionais. Ultimamente vive com os olhos molhados e os ombros cansados de tanto carregar o seu mundo e o dos outros.
Carol existe, de fato...
Existe, mas não vive, e o pior:
ninguém nota.

LER AO SOM DE: NÃO QUERO MAIS ACORDAR ASSIM - FRUTO SAGRADO

Dias Confusos... Dias Estranhos...

As vezes não existem motivos específicos.
Simplesmente não estamos bem, não acordamos bem.
É aquela estranha sensação de tédio, angústia e saudade, saudade não sei de quem.
E é nesses momentos, estranhos momentos em que todas as coisas coinscidem a dar errado.
Você põe o pé na rua e começa a chover, a programação da TV torna-se chata, os seus amigos nem se interessam em enviar, ao menos um SMS de "bom dia"...
E nesses dias você tende a irritar-se facilmente com coisas minúsculas, como se fosse um desabafo inapropriado.
Nesses dias as pessoas não entendem você, e nem ao menos você se entende.
É uma exatidão de si mesmo que nos transcorre, uma exatidão confusa... Sem explicações você tem certeza de quem é, e essa certeza quase que absoluta amedronta e machuca.
Ou, há casos, de uma total incerteza das coisas; você não sabe o que sente, mas sente algo, você não sabe quem é, mas tem certeza de que aquela dúvida faz parte de sua essência.
Dias confusos... Tédio?
Dias estranhos... Estado de espírito?
E é exatamente nesses momentos de aparente crise existencial que precisamos de colo, de carinho, de atenção...
Você se acostuma tanto a ser a torre forte dos outros, a perguntar se eles estão bem, a dar conselhos, a abraçar forte enquanto choram... Que as pessoas também se acostumam a ter essa imagem sua e a inconscientemente te machucarem com a ausência, com a indiferença... Então você se sente traído e abandonado.
Muitas vezes você só precisa de um abraço.
Um abraço apenas, um "Você está bem?", uma piada sem graça para rir por misericórdia...
Muitas vezes você só precisa deixar de precisar sempre de si mesmo pra enfrentar suas guerras.
Muitas vezes você só precisa do outro.

Palavras Vazias


Todos falam sobre injustiça e desigualdade. Todos falam sobre a importância do amor ao próximo, sobre o respeito, a sensibilidade... Mas e quando todas essas palavras tornam-se apenas "palavras"?
Palavras vazias.
Vazias de sentido, de significado, e mais que isso: palavras vazias de sentimento.
E quando passar por um mendigo na rua e esbarrar em uma criança drogada torna-se comum e até mesmo banal?
Estamos na era mais egoísta de todos os tempos. A era onde textos como esses são quantitativos, mas atitudes são raras. Era onde o "Eu me amo" vale mais do que o "amai ao próximo como a ti mesmo".
Era onde luxuosas igrejas, com carros importados no estacionamento e assentos confortáveis têm dentre suas preocupações as inaugurações de novos templos, ao invés de estruturação de vidas.

Hoje presenciei uma das cenas mais tristes da minha vida. Enquanto passava por um lugar frequentado por todos os tipos de pessoas, tanto ricos quanto pobres, avistei alguns mendigos. Cheguei, conversei e por fim dei a eles o que eu tinha de mais precioso: Jesus (além de poucas moedas que guardei para determinado fim).
O que mais me encantou naquela pequena conversa não foram os vários pedidos de agradecimento pela oferta dada, nem o jeito tímido dos pobres se ajeitarem para nos receber... O que me encantou foram os olhos de uma deles. Os olhos dessa senhora ao perceber que nós estávamos nos importando com aquela situação caótica brilharam e ficaram úmidos, ela nos deu um sorriso sem dentes cheio de gratidão, como se aquilo fosse raro!
Ao me afastar deles, como por uma fração de segundos, os tais começaram a brigar por aquele dinheiro, demonstrando a miséria em que viviam. Pareciam animais lutando pelo último alimento e assim revelavam o instinto primitivo humano em um triste palco mórbido da vida.

Saímos de lá com o coração apertado, avistando em contraste todas as belezas daquela grande cidade, com seus grandes carros, pessoas importantes e igrejas luxuosas. Culpei tudo e todos por aquele momento infeliz que presenciei. Culpei o governo, o capitalismo, e enfim concluí com um: "A vida é cruel."

No fim, só descobri que estamos muito longe do ideal perfeito da palavra "Amor", sabendo assim que Deus é amor e que no fim de tudo, nós, não sabemos de fato amar.

LER AO SOM DE: NÃO EXISTE AMOR EM SP - CRIOLO