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Esperemos


Maturidade é uma palavra bonita. Acho bonita porque me lembra fruta madura, e fruta madura me lembra sabor bom. Mas maturidade também me lembra um velho funcionário público, um pouco desgostoso com a vida, porém com aquele desdém que existe quando a gente se acostuma com as coisas. E isso não me parece legal. 
O sonho de todo mundo é crescer. Meninas, quando crianças, brincam de bonecas e de comidinhas para sentirem-se um pouco maiores do que são; garotos, por outro lado, desenham bigodes em suas bochechas e em cima dos lábios para ostentarem masculinidade precoce. 
Mas um dia todo mundo definitivamente chega àquela idade convencional da maturidade - que pode ser algo relativo - e percebe que não cresceu o suficiente, que talvez esteja sofrendo de um problema de ossos e se vê desesperado diante do batalhão de super-humanos adultos com suas vidas de adultos perfeitas.
A gente acaba correndo no fluxo que predestinaram; arrumamos um emprego, temos filhos, casamos, pagamos um bom plano de saúde (porque o sistema de saúde pública é precário, dizem meus pais e professores barbudos) até que a gente pensa estar crescido e pronto. 
Pronto para quê? 
Vejo-me com um escudo, toda equipada e preparada para as guerras que me falaram. Estou atenta à todos os sons, todos os sussurros, e a qualquer alarde posso atacar e mostrar que sou completamente independente. 
"A vida é dura, você tem que estar pronto", "Cresça", "O mundo é dos fortes", "Amadureça"... Penso em todos esses conselhos, e já me enxergo com meus quarenta anos, me desarmando das guerras diárias, tirando meu escudo pesado, meus sapatos, sentada na cama com os olhos fitos no relógio, que denuncia ser fim de dia. Ainda sou eu. 
Ainda sou a menina que um dia escreveu ter medo de crescer, porque acho que mesmo com todo o conjunto de armas que tenho para enfrentar tudo, sofro com os ossos, com a altura espiritual e emocional desequilibrada diante do meu período convencional de maturidade. 
Ainda acho a palavra bonita, confesso. Acho que vai chegar o tempo em que me adequarei melhor ao conceito. Talvez realmente exista e não seja esse bicho de sete cabeças que as pessoas têm medo. Talvez a sensação de ser um gigante seja bem legal e leve. 
Esperemos. 
A palavra é bonita, então... Esperemos.

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