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Irmãos


Nós, irmãos humanos, somos como árvores. 
Porque, por mais que ventos venham, 
por mais que frutos apodreçam,
nossas raízes nos fincam no mesmo lugar.  
Que tédio é a nossa vida de árvore fincada! 
É tristeza daquela endurecida depois do cansaço de ter sido par de olhos chuvosos a vida inteira
Nós, irmãos de história, somos como árvores! 
Temos os ramos frágeis, 
as folhas bipolares em seus humores,
mas continuamos. 
Continuamos assim mesmo, sem complemento pra encher a frase. 
Nós, irmãos de maldade, somos como árvores!
Nós temos a ruindade dentro de nós, 
nos apodrecendo todo dia, 
nos aproximando, como abraço, da terra em que nascemos. 
De nós saem frutos que adoçam a boca das crianças, 
de nós saem venenos que nos suicidam. 
Nós somos um amontoado de pecados. 
Nós, irmãos sofredores, somos como árvores! 
Nossas lágrimas enchem mares, nossos mares de sal, tratam as nossas próprias feridas. 
Fazemos sombras de tristeza sobre nossos ombros cansados.

Sobre toda a sequidão de nossa angústia, 
sobre todo o azedume de nossa maldade, 
sobre toda a perpetuação de nossa fortaleza, 
brindemos, irmãos!
Porque as estações vêm, 
os frutos apodrecem, 
os ventos violentam, 
o tédio entristece,
e mesmo que o machado nos sangre e nos faça, em choro e riso, abraçarmos, de saudade, a terra
nossas raízes, enfim, permanecem.
Resistem.
Continuam.




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