Uma casa em construção - Reflexões sobre Graça e Religiosidade
Tenho refletido muito sobre minha vida nos últimos meses. Na verdade, mais sobre minha vida como cristã. Terminei de ler Como os pinguins me ajudaram a entender Deus do Donald Miller e, apesar de ter feito Ooh com algumas passagens liberais do Don(eu não sou liberal), aprendi muito sobre o que pode ser, de fato, um relacionamento com Deus. (Ainda estou lendo O Evangelho Maltrapilho do Brennan Maning que é incrível também).
Se você, como eu, cresceu na igreja, dentro de uma religião, pode tomar dois caminhos ao se deparar com a realidade do mundo e das pessoas: 1. você desacredita de tudo, se revolta contra todo o sistema religioso e vira um quase-ateu/agnóstico; 2. você questiona tudo o que foi lhe entregue como verdade, retém o que é, de fato, bíblico e verdadeiro e se reafirma na fé, procurando uma forma mais pura de se relacionar com Deus. Acho que graças a Ele, tomei a segunda alternativa quando entrei na universidade. A universidade é um lugar muito amplo, um verdadeiro mundo de pessoas, de ideologias, de comportamentos; é natural, no começo você se chocar com a infinidade de pessoas diferentes e ter o desafio de conviver com elas. É lá que você aprende a questionar tudo o que acredita e esse é um processo doloroso e difícil.
Passei por um momento em que simplesmente não entendia o porquê que ia à igreja, fazia atividades relacionadas à organização litúrgica, e, principalmente, o porquê que acreditava em Deus. Eu acreditava de verdade em Deus? Ou apenas estava continuando o legado da minha família, do meu grupo de amigos, das pessoas ao meu redor? Será que eu conhecia a Ele, ou tudo não passava de um piloto automático?
Eu sei que assumir esses questionamentos implica, talvez, em um reconhecimento de fraqueza e acho que a maioria da comunidade cristã tem dificuldade em se entender como fraca, joelhos vacilantes, dependente de respostas como todo mundo (sinceramente é uma coisa que não entendo em nós, já que na bíblia há vários relatos de pessoas se reconhecendo como fracas e entendendo sua fortaleza como vinda de Deus).
Comecei a orar e a pedir a Deus um direcionamento específico sobre o que estava fazendo da minha vida, sobre como tê-Lo comigo sem ser um conceito pronto, mas como Deus pessoal... E, principalmente, como fazer dessa mudança interna uma forma de externalização em todas as áreas. Foi e continua sendo um processo. Deus começou a se mostrar a mim em lugares para fora de minha caixa, O vi na vida, na natureza, nas pessoas, O enxerguei na complexidade de toda a arquitetura humana e cósmica, não vi alternativa mais lógica do que percebê-lo em tudo. Está sendo incrível essa minha experiência.
Me identifiquei muito com o Donald Miller principalmente quando ele questiona a falta de amor em nós, como igreja, a falta de empatia com as pessoas, a falta de flexibilidade no contato com gente que vive estilos de vida contrários ao que acreditamos. Tudo isso gira em torno de uma constatação que chegamos, mesmo que inconscientes. Constatação que nos diz que, porque fomos alcançados pela graça de Deus, conseguimos chegar à um patamar mais alto onde nós somos os sem pecado, santos e inalcançáveis e eles os pecadores, sujos e indignos de sentarem conosco à mesa, compartilharem do mesmo Pão e jogarem conversa fora. A primeira coisa que entendo ao ler a Palavra de Deus é que não existem mais elites espirituais. A salvação vem de Deus e somente dEle, e nós, por nós mesmos, não podemos nos autojustificar de nossas ações, nos salvar de nossos pecados. O processo de arrependimento é promovido por Ele, o processo de convencimento de pecado é feito por Ele, o processo de limpeza é produzido por Ele, e todos esses processos, depois do sacrifício de Jesus são eternos e novos!
Como algo pode ser eterno e ao mesmo tempo novo? Quando somos salvos, nada pode nos separar dEle, isso é algo que nos garante a eternidade. A eternidade do sacrifício da cruz. Mas uma das coisas mais lindas é que essa aliança é nova! Ela se renova a cada dia, porque todos os dias as misericórdias do Senhor se derramam sobre nós, e todos os dias, Ele nos convence dos erros e nos perdoa quando nos arrependemos. Isso é lindo! Não estamos à salvo dos erros, não estamos em um patamar mais alto. A Graça, como disse o Donald, é um reino de mendigos. Somos mendigos, em um mundo de mendigos, apontando o caminho onde encontramos o Pão gratuito para outros mendigos.
Mas ao contrário de tudo isso, nossa religião, nossas igrejas como instituições, nossas denominações são muito altas, muito santas, muito "puras" para a entrada e contato com pecadores. Ninguém se sente bem em um lugar onde, ao invés da explanação do Evangelho, só se percebe olhares julgadores, narizes em pé, dedos em riste, pregações que usam do medo humano e não do temor da Palavra. Ninguém quer entrar nesse lugar que se diz casa de Deus. Ninguém se sente à vontade perto de "representantes do Senhor" que não sorriem, que não abraçam, que têm nojo de estarem perto, que não respeitam quem pensa contrário e não batem o pó das sandálias porque não querem obrigar ninguém, como faria o próprio Cristo. Todos se sentem muito intimidados perto de nós porque, infelizmente, nosso histórico nos últimos anos (com exceções, claro) é de afastar pessoas de Deus e não de levá-lo para fora de nossas paredes.
Jesus é maravilhoso. Não tenho outra definição para descrevê-lo! Ele não apenas sentava com pecadores, mas comia com eles, isso naquela época significava o estágio maior de intimidade. Será que temos noção disso? Jesus, o único que poderia dizer-se acima de todos, ria com eles, comia, se importava... O que tinha direito de julgá-las, o que tinha direito de não ficar perto, foi o que se aproximou, se preocupou. Amou. É completamente arrebatador pensar que o Deus do universo preferiu descer de toda a Sua glória e todo o seu direito nos condenar, para vir em forma de homem pobre, em uma cidade miserável, sem nenhum traço de beleza física, sentar com pessoas como nós, imundas, falar a respeito do quanto Ele podia nos libertar do abandono eterno e nos perdoar de todas as nossas falhas, enquanto comia na mesma mesa.
Foi isso que Ele fez por nós.
Seria isso que Ele faria se estivesse em carne e osso entre nós.
Eu oro para que um dia nós percebamos que a vida com Deus é mais do que nossos rituais, nossos dias de domingo, nossos departamentos de igreja, nosso evangeliquês. Eu oro para que entendamos que nós somos a igreja, o lugar onde a essência de Deus deve ser transbordada em retidão, justiça, amor... Eu oro para que não haja negação de compartilhar o Pão e sentar à mesa com os mendigos esfomeados, mas sim a atitude de tê-los para sempre perto, de criar laços de amizade, de abraçá-los quando precisarem, sem interesse, sem julgamento, apenas esperando que o Pai faça o trabalho dEle, entendendo que também somos mendigos. Mendigos que comem à mesa com um Rei que ama.
Eu oro para que nós, como casa de Deus, aprendamos a abrir nossas portas e janelas para que o mundo seja revolucionado por Ele, um Ser tão supremo e grande, mas que habita em templos humildes, em templos pobres, em templos que ainda estão em obra porque um dia serão a perfeição.
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