E a morte é o cenário preponderante do cotidiano.
Nós, nesse meio todo, somos flores que nascem à beira do esgoto. Plantinhas verdes-oliva que brotam do concreto do apartamento descascado. O prédio tédio de Leminski.
Nós cheiramos a morte, porém como botões de rosa, corajosos, resistimos.
Talvez nem tanto.
Talvez apenas existamos pra sermos cheirados por outros, trazermos um pouco de beleza pro dia.
Depois a gente murcha, devagarinho,
sem pressa.
Ninguém nota.
Quando temos sorte, somos lembrados por alguém. As flores do velório.
Depois a gente murcha, devagarinho,
sem pressa.
Ninguém nota.
Quando temos sorte, somos lembrados por alguém. As flores do velório.
O vizinho do lado deixou de existir. Trouxeram-lhe flores, mas ele não cheirou. A rua toda, nessa cidadezinha, ficou a lamentar. Tão jovem que era o rapaz... Tinha filhos... Trabalhador honesto. Mas definhou . Lutava contra uma doença grave.
Imagino eu que o momento em que apagou a luz dentro de si, suspirou de alívio. Ali era o fim da dor, sorriu pra o céu.
Deixou o fardo pesado.
Deixou o fardo pesado.
Tatuou sua vida nos corações de quem amou no mundo, no sorriso resistente da sua esposa, no abraço apertado dos filhos, nos olhos doces de sua mãe...
Tatuou seu nome à tinta. Mas tinta se apaga.
Tatuou seu nome à tinta. Mas tinta se apaga.
Passou-se um mês e parece que o mundo não entendeu que o vizinho do lado partiu.
Não vejo ninguém chorando, não vejo ninguém de preto, não vejo cantorias fúnebres em sua homenagem. Eu não estou de preto. Nem ao menos sabia seu nome.
O meu vizinho murchou.
Devagarinho.
Sem pressa.
E Ninguém notou.
LER AO SOM DE HEALAH DANCING - KEATON HENSON (FEAT. REN FORD)
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